O Governo Lula iniciou uma série de exonerações de indicados políticos de deputados que votaram contra a medida provisória (MP) que aumentava impostos. Essa ação é vista como uma retaliação direta à base governista que desobedeceu às orientações do Planalto, sinalizando uma postura mais firme do Executivo.


Contexto da Retaliação Governamental
Cinco superintendentes regionais de ministérios ligados ao MDB e ao PSD foram os primeiros a serem demitidos. Segundo fontes do Planalto, esses aliados foram alertados previamente de que a votação da MP seria decisiva e que a desobediência implicaria na saída do governo. As exonerações foram publicadas no Diário Oficial da União, afetando principalmente cargos no Ministério da Agricultura e no Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).

Insatisfação e Divisões Partidárias
As demissões geraram insatisfação, especialmente no PSD. Um líder da sigla classificou a ação como pouco inteligente, visto que o partido foi um dos que mais apoiaram a MP, ficando atrás apenas do PT. O PSD orientou voto contra a medida, sob coordenação do presidente Gilberto Kassab. Já o MDB declarou apoio, mas ambas as bancadas apresentaram divisões significativas: no PSD, foram 20 votos a favor e 18 contra; no MDB, 16 a favor e 14 contra.
Além das superintendências, as exonerações também atingiram cargos de assessoria e administração regional em estatais como Correios e Caixa Econômica Federal, cujas saídas de comissionados não são publicadas no Diário Oficial.
Impacto Fiscal e Cenário Eleitoral
A medida provisória era crucial para o governo Lula manter o crescimento da arrecadação em 2026, um ano eleitoral, e evitar cortes de despesas e investimentos. Com a rejeição da MP, que previa um impacto de R$ 20 bilhões no Orçamento, o Executivo terá que buscar novas fontes de Receita ou reduzir seus gastos. A derrota na votação, por 251 votos a 193, reforça a necessidade de o governo consolidar seu apoio no Congresso.

Estratégia de Longo Prazo e Alinhamento Político
A retaliação governamental também afetou indicados de partidos que se declaram oposição, como PP e PL, na Caixa Econômica Federal. Um exemplo é a destituição de Rodrigo de Lemos Lopes, vice-presidente de sustentabilidade e cidadania digital da Caixa e aliado do vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ).
José Trabulo Junior, consultor do presidente da Caixa, Carlos Vieira, e aliado do presidente do PP, Ciro Nogueira, também foi removido do cargo. Trabulo tem histórico em cargos públicos, incluindo a Conab no governo Bolsonaro.
A estratégia do governo Lula é clara: contar com parte do centrão em sua campanha para 2026. As demissões de aliados infiéis são vistas como o primeiro passo para fortalecer aqueles que apoiarão o petista na próxima eleição presidencial, consolidando o alinhamento político necessário para a governabilidade e para futuras disputas eleitorais.
Fonte: Folha de S.Paulo