O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, através do Ministério do Esporte, decidiu cortar um acordo crucial de cooperação. Este acordo permitia que as Forças Armadas mantivessem e administrassem os centros de treinamento que foram legado dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Como resultado direto dessa decisão, eventos, treinamentos e competições foram suspensos no Parque Olímpico de Deodoro, localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Essa estrutura abrange mais de dez modalidades esportivas.

Com a paralisação da área e a falta de verba específica para sua manutenção, os equipamentos do complexo correm um sério risco de deterioração. Há preocupações no governo e na comunidade olímpica de que essa condição precária do legado físico possa comprometer os planos do Brasil de sediar os Jogos Pan-Americanos e Parapan-Americanos em 2031, para os quais Rio de Janeiro e Niterói já apresentaram candidatura. O custo total para a construção do complexo, entre 2004 e 2016, foi de aproximadamente R$ 900 milhões, em valores não atualizados.
Resposta do Ministério do Esporte
Em nota oficial, o Ministério do Esporte declarou que está “aguardando a sanção do orçamento de 2025”. A pasta informou que, com a nova realidade orçamentária, buscará repactuar a manutenção dos equipamentos com o Ministério da Defesa. No entanto, o Ministério não detalhou os impactos específicos da paralisação do complexo em treinamentos e competições. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) confirmou estar em conversas com o governo para que as instalações retornem à operação normal.
Histórico dos Acordos e Cortes Orçamentários
Os acordos de cooperação entre o Ministério do esporte e o Exército, que estavam em vigor há cerca de uma década com prorrogações sucessivas, venceram em janeiro e fevereiro deste ano. O principal acordo, firmado em fevereiro de 2017, foi assinado pelo então comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, e pelo ministro Leonardo Picciani. A decisão de não renovar esses acordos foi tomada pela gestão do ministro André Fufuca e foi comunicada em maio de 2024 por meio de um ofício. O documento sinalizava a impossibilidade de prorrogação dos acordos na conjuntura orçamentária atual.
A verba destinada à “gestão e manutenção do legado olímpico e paralímpico” sofreu cortes significativos sob a gestão de Lula. Para 2025, estão previstos apenas R$ 10 milhões, um valor consideravelmente inferior à média de R$ 35,2 milhões observada nos exercícios anteriores. Essa redução, combinada com o fim dos acordos formais, agrava a situação, especialmente no Parque Olímpico de Deodoro, administrado pelo Exército.
Impacto no Esporte Brasileiro
O encerramento das atividades nos equipamentos de Deodoro, oficializado em 27 de fevereiro via ofícios do Exército, afeta cerca de 80 eventos sociais e esportivos que estavam agendados para este ano. A Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE) classificou a decisão como “irrazoável e incompreensível”, alertando para um dano severo à história esportiva do Brasil e ao uso de recursos públicos. A Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Olímpico (CBJJO) também lamentou o fechamento da Arena Wenceslau Malta, principal local de treinamentos e competições da entidade.
O Comitê Olímpico Brasileiro (COB), por meio de seu presidente Marco La Porta, reiterou seu compromisso em buscar soluções e mediar as pontas para garantir que as instalações voltem a operar. O COB aprovou recentemente a candidatura conjunta do Rio de Janeiro e Niterói para os Jogos Pan-Americanos e Parapan-Americanos de 2031, e o fechamento dessas instalações pode impactar negativamente essa candidatura.
Análise Política e Orçamentária
O corte de verbas para o legado olímpico contrasta com a distribuição de convênios pelo Ministério do Esporte. Desde setembro de 2023, o Maranhão, estado base do ministro André Fufuca, recebeu R$ 148 milhões em convênios, sendo a quarta unidade da federação mais contemplada. Essa situação levanta questionamentos sobre a alocação de recursos e prioridades da pasta, especialmente em um momento em que instalações esportivas de grande importância correm o risco de abandono.
Fonte: Estadão