Governadores de direita buscam união com crise no RJ e distanciamento de Bolsonaro

Governadores de direita buscam união estratégica com a crise no RJ, visando se descolar de pautas bolsonaristas como anistia e focar na segurança pública.
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Governadores de direita encontraram na crise de segurança pública no Rio de Janeiro uma oportunidade estratégica para reeditar esforços de união e se desvencilhar da agenda bolsonarista focada na anistia. Integrantes desse espectro político e interlocutores dos gestores avaliam que há agora uma brecha para que eles trabalhem uma pauta de “vida real”, em especial a segurança pública, tema onde costumam ter bom desempenho junto à opinião pública.

União de Governadores da Direita em Nova Tentativa

Liderados por figuras como Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, os governadores de direita organizaram dois encontros recentes. O objetivo é ressuscitar a união que tentaram em agosto, centrada no ex-presidente Jair Bolsonaro e na discussão sobre anistia, mas que não obteve sucesso.

A primeira reunião, mais restrita, foi articulada por Zema e contou com a participação de Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, e Mauro Mendes (União Brasil), de Mato Grosso. Desses cinco governadores, três são considerados potenciais candidatos à presidência, com Tarcísio afirmando que pretende buscar a reeleição em São Paulo.

Em paralelo, Jorginho Mello promoveu um encontro mais amplo no Rio de Janeiro, com a presença de Cláudio Castro (PL). A proposta é apresentar medidas e oferecer apoio ao governo local na gestão da segurança pública.

Crise no RJ como Palanque para a Segurança Pública

Tanto os governadores de direita quanto seus aliados defenderam a operação policial no Rio de Janeiro, que resultou em ao menos 119 mortes, tornando-se a mais letal da história do estado. Essa postura contrasta com Críticas do PT, que acusou os governadores de usarem a tragédia para atacar o presidente Lula.

O presidente do PT, Edinho Silva, declarou em rede social que é “lamentável que governadores, na saga de atacar o presidente Lula, montem palanque sobre os corpos de centenas de mortos”. Ele defendeu que a última palavra sobre o combate ao crime organizado é competência, não “politicagem”.

Um auxiliar próximo aos governadores da direita indicou que, apesar do alinhamento de discursos, ainda há incertezas sobre a concretização de medidas conjuntas, devido à diversidade de engajamento entre os gestores. A expectativa é que o Congresso Nacional possa avançar em discussões sobre o tema, como o projeto que classifica facções como terroristas.

Governadores da Direita e o Governo Federal

Durante o caos no Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro reclamou da falta de apoio do governo federal. Em resposta, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que o estado não havia solicitado ajuda e deveria assumir sua responsabilidade. Castro, por sua vez, disse que não ficaria “chorando” e classificou a operação como um sucesso, apesar das mortes.

Romeu Zema alertou que facções criminosas estão se expandindo pelo Brasil e relembrou uma declaração de Lula que gerou polêmica, onde o presidente teria afirmado que traficantes são vítimas de usuários, declaração posteriormente retratada como “mal colocada”.

Ronaldo Caiado afirmou que o combate às organizações criminosas sempre foi um ponto fraco do PT, que ele considera “complacente com o crime” e “aliado das facções”. Segundo Caiado, a segurança pública não é uma pauta exclusiva da direita, mas sim da população, e que seu grupo tem compromisso com essa causa.

Questionado se a nova união seria uma forma de superar o debate sobre anistia, Caiado respondeu que não vê as pautas como excludentes, e que como governador, seu foco é proteger a população, sem “perder tempo com ilações”.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), publicou um vídeo defendendo que a segurança pública não deve ser um campo de guerra ideológica. Ele enfatizou que seu governo no RS seria um exemplo na área e cobrou liderança e coordenação do governo federal, argumentando que a segurança pública deve ser prioridade absoluta do presidente da República. Leite também criticou a ideia de que a “PEC da Segurança” seria um subterfúgio para o governo federal se eximir de responsabilidades, argumentando que os dispositivos constitucionais atuais já conferem autoridade à União sobre o assunto.

Tarcísio de Freitas e a Oportunidade Política

Integrantes da base do governo de Tarcísio de Freitas na Alesp (Assembleia Legislativa) veem a crise de segurança no Rio de Janeiro como uma oportunidade. Ao colocar a segurança pública em pauta, a direita teria a chance de reconquistar apoio popular com propostas práticas. Tarcísio, que vinha buscando se afastar da pressão para se candidatar à presidência, poderia se beneficiar dessa mudança de foco.

Um deputado próximo a Tarcísio lembrou que o presidente Lula vinha recuperando índices de aprovação com propostas como a isenção do Imposto de Renda, enquanto a direita estava focada na defesa da anistia, o que teria afastado parte do empresariado paulista. Agora, a defesa de projetos linha-dura contra a criminalidade abriria espaço para conquistar novos eleitores.

A equipe de comunicação de Tarcísio manteve silêncio oficial. No entanto, o governo de São Paulo divulgou uma operação policial no ABC com uso de 18 drones e sem mortes. Paralelamente, Tarcísio autorizou seu secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, a retornar à Câmara para relatar o projeto que classifica facções como organizações terroristas. Em maio, o governo de Donald Trump propôs que o Brasil classificasse o PCC e o CV como organizações narcoterroristas, mas o Ministério da Justiça se recusou.

Governadores de direita em reunião discuten estratégicas em meio à crise de segurança no Rio de Janeiro.
Governadores de direita buscam novas pautas após crise no Rio de Janeiro.
Operação policial no Rio de Janeiro causa debate sobre segurança pública e o papel dos governadores de direita.
Debates sobre segurança pública ganham força com a crise no Rio de Janeiro.

Fonte: Folha de S.Paulo

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