A Gol Linhas Aéreas apresentará aos acionistas uma proposta de reorganização societária que pode resultar na saída da empresa da B3, o segundo nível de governança corporativa da bolsa brasileira. A informação foi divulgada em um boletim de voto a distância.

A proposta envolve a incorporação da Gol Linhas Aéreas Inteligentes e da Gol Investment Brasil pela Gol Linhas Aéreas SA, uma empresa fechada. A Abra, controladora da Gol, indicou que pagará R$ 5,82 por título da nova empresa fechada, correspondendo ao preço atual de emissão de cada papel. Acionistas minoritários receberão uma ação da companhia fechada por cada ação ordinária, enquanto ações preferenciais serão trocadas por 35 títulos da nova estrutura. O cálculo atual não contempla as dívidas da companhia.
Estrutura Societária e Incorporação
Essa reorganização abrange outras subsidiárias importantes da Gol, como o programa de fidelidade Smiles e a empresa de logística Gollog. A proposta depende da aprovação em assembleia de acionistas, prevista para 4 de novembro.
O cenário atual da Gol é reflexo de um aumento de capital realizado em maio, no qual apenas 0,76% dos acionistas minoritários participaram. Consequentemente, a Abra expandiu sua participação para 99,97% das ações ordinárias e 99,22% das ações preferenciais. A participação de terceiros em ações em circulação caiu para 0,78%, abaixo do mínimo exigido pela B3 para o nível de governança.
Adicionalmente, as ações preferenciais da Gol negociam abaixo de R$ 1,00, valor que a B3 exige como mínimo para cotação.

Prazos da B3 e Resolução da Gol
Diante dessas irregularidades, a B3 estabeleceu prazos para a Gol se adequar às exigências do mercado. A companhia tem até janeiro de 2027 para restabelecer o percentual mínimo de ações em circulação e até janeiro de 2026 para que suas ações preferenciais voltem a ter uma cotação de, no mínimo, R$ 1,00. Diante deste quadro, Gol e Abra optaram por simplificar a estrutura corporativa e resolver os impasses através da incorporação.
A Gol classificou o movimento como um fortalecimento da governança, visando reduzir custos e aumentar a agilidade estratégica em um momento de retomada operacional. A companhia assegura que a reorganização não afetará os passageiros.
Tentativa de Fusão com a Azul Frustrada
Esta reorganização societária ocorre após a frustrada tentativa de fusão com a Azul. O acordo, que havia sido anunciado em janeiro, foi oficialmente encerrado em 25 de setembro, após meses de negociações estagnadas. O memorando de entendimentos previa a união das companhias.
Na época do acordo, a Gol estava em processo de recuperação judicial nos Estados Unidos (Chapter 11), enquanto a Azul, apesar de enfrentar desafios, apresentava um cenário menos crítico. O memorando representava uma estratégia de união de forças em um setor aéreo globalmente sensível, impactado pela pandemia, endividamento, alta do dólar e do preço dos combustíveis de aviação.
No entanto, a situação se inverteu no final de maio, quando a Gol concluiu seu processo de recuperação nos EUA. Pouco depois, a Azul declarou adesão ao Chapter 11. Fontes do setor indicam que a Azul comunicou à Abra que sua prioridade seria o processo de recuperação, impactando os acordos de fusão.
Fonte: Folha de S.Paulo