O advogado Frederick Wassef, ligado ao clã Bolsonaro, tem expandido sua influência política em Atibaia, cidade do interior de São Paulo. Ele atuou como principal cabo eleitoral para a eleição do atual prefeito, Daniel Martini (PL), em 2024, filiando-o ao partido e liderando a campanha.
Wassef também indicou nomes para o secretariado municipal, incluindo um de seus clientes, e participou de reuniões na prefeitura, apesar de não ocupar cargo formal. Enquanto Martini o descreve como um “deputado sem mandato”, opositores o consideram o “prefeito de fato” de Atibaia, algo que ele nega.
Em Atibaia, cidade distante 60 km da capital paulista, Wassef mantém um escritório onde Fabrício Queiroz, pivô do caso da “rachadinha” de Flávio Bolsonaro, foi encontrado e preso em junho de 2020. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) participou de atos de campanha de Martini no ano passado, e sua presença foi anunciada por Wassef na inauguração de uma sede regional do PL em Atibaia.
Wassef assume liderança partidária e anuncia figuras importantes do PL
Desde junho, Wassef preside o diretório do PL Regional de Atibaia e Bragança Paulista. Para a inauguração da nova sede, ele anunciou a presença de Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, e do deputado federal Sóstenes Cavalcante (RJ), líder do partido na Câmara dos Deputados.
Wassef atribui sua influência na região a uma “relação de competência, lealdade e proteção de Bolsonaro”, afirmando ter utilizado esse poder para eleger um prefeito “honesto” e combater a “máfia de Atibaia”. Ele é proprietário de três imóveis na cidade, um deles conhecido por ter abrigado Fabrício Queiroz.
Após se recusar a dar entrevistas, Wassef enviou uma resposta nesta quinta-feira (6), alegando que a imprensa foi enviada por um de seus inimigos na região, o também advogado Edevaldo de Oliveira, seu ex-aliado com quem rompeu em junho. Edevaldo alega que Wassef utilizava o PL para promover interesses pessoais.
Wassef rebateu, acusando Edevaldo de difamá-lo e negando qualquer vínculo com o PL ou a família Bolsonaro, afirmando que Edevaldo “nunca foi advogado de absolutamente ninguém da família Bolsonaro”. Edevaldo, ex-policial rodoviário federal, já advogou para Queiroz e Agostinho Moraes da Silva, outro ex-assessor de Flávio Bolsonaro.
Aposta do PL e influência na prefeitura de Atibaia
O evento desta sexta é visto como um indicativo de que Wassef será a aposta do PL para deputado federal em 2025. A nova sede do partido fica em uma área nobre da cidade, na avenida Lucas Nogueira Garcez.
Um dos trunfos de Wassef foi a aposta em Daniel Martini. Em 2020, Martini foi candidato a prefeito pela Rede, partido da base do Governo Lula (PT). Quatro anos depois, elegeu-se pelo PL de Bolsonaro com o apoio de Wassef, que atraiu figuras como Flávio Bolsonaro e o senador Marcos Pontes (PL-SP) para a campanha.
Durante o governo Bolsonaro, Wassef era chamado de “ministro informal”. Em Atibaia, o prefeito Martini reconheceu sua influência:
“Considero Wassef um deputado sem mandato, ele tem muitos contatos”, disse Martini ao portal O Atibaiense em outubro do ano passado. “Wassef terá um papel importante na interlocução com os governos estadual e federal.”
A atuação de Wassef em Atibaia também gerou atritos. Além do rompimento com Edevaldo, outros ex-aliados o acusam de ter a palavra final nas decisões da prefeitura. O prefeito Martini negou publicamente essas afirmações.
Embora Wassef e a gestão Martini neguem a indicação de secretários, o titular do Turismo, Alexander Rossa, é cliente de Wassef desde julho de 2024. Rossa, nascido na Rússia, é alvo do Ministério Público Federal por crimes de fraude e ocultação de patrimônio, e é representado por Wassef em uma ação no Superior Tribunal de Justiça.
A prefeitura afirma que as nomeações seguem critérios rigorosos de conformidade legal. Wassef nega participação em reuniões na prefeitura, apesar de relatos de servidores. Contudo, a gestão admitiu a participação dele em uma reunião em fevereiro com a cúpula da Polícia Civil da região, discutindo a doação de um terreno para uma nova delegacia.
Registros indicam que Wassef também participou em janeiro de uma reunião com Victor Murad Filho, secretário de Transformação Digital do Espírito Santo. A prefeitura, em resposta a um pedido via LAI, alegou não possuir registros de Acesso em suas dependências.
Fonte: Valor Econômico