Fed mantém juros, mas sinais de cautela abalam mercados globais

Fed corta juros em 0,25%, mas sinalizações de cautela abalam mercados. Entenda as divisões internas e os próximos passos da política monetária dos EUA.
Fed corta juros — foto ilustrativa Fed corta juros — foto ilustrativa
Chairman of the US Federal Reserve Jerome Powell

A decisão do Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos sobre a taxa de juros veio em linha com as expectativas do mercado, resultando em um corte de 0,25 ponto percentual. Com isso, a taxa básica de juros americana foi ajustada para a banda entre 3,75% e 4% ao ano.

Divisões Internas e Sinalizações no Fed

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, destacou que a decisão apresentou duas surpresas relevantes. Um dos dirigentes, Stephen Miran, defendeu um corte mais expressivo de 0,50 ponto. Por outro lado, Jeffrey Schmid, presidente da distrital de Kansas City, votou pela manutenção da taxa em 4,25%. Essa divergência interna evidencia um debate sobre o ritmo ideal da flexibilização monetária.

Outro ponto de atenção foi o anúncio de que o Fed pretende encerrar a redução de seu balanço patrimonial a partir do final de novembro. O balanço, que atingiu seu pico de quase US$ 9 trilhões em 2022, tem passado por um processo de normalização desde 2023 e a expectativa é que se estabilize em torno de US$ 6 trilhões, patamar ainda superior ao observado no período pré-pandemia, quando girava em torno de US$ 4 trilhões.

“Esse movimento levanta uma questão para 2026: se o Fed pode voltar a expandir seu balanço em um cenário de inflação ainda elevada e Mercado de trabalho lateralizado. Caso isso ocorra, o dólar pode se enfraquecer ainda mais frente a outras moedas no próximo ano. Por ora, o sinal é de pausa na redução do balanço, o que tende a dar suporte aos ativos de risco globais no curto prazo”, avalia o especialista.

Foco no Mercado de Trabalho e Cautela nas Próximas Decisões

Marcos Moreira, sócio da Garten Capital, observou que a decisão do Fed não representa uma mudança drástica na política monetária já em curso. Ele ressaltou que o foco do Fed nesta ocasião esteve mais voltado para o mercado de trabalho do que para a inflação. O banco central reconhece a desaceleração no dinamismo do mercado de trabalho, atribuindo parte disso à redução no ritmo de imigração, um fator que já vinha sendo monitorado.

A postura de aguardar pelos efeitos das medidas tarifárias reforça a visão de maior cautela e a dependência de dados para as futuras decisões do Fed.

A fala de Jerome Powell, presidente do Fed, em coletiva pós-reunião, foi particularmente importante. Powell admitiu que as autoridades monetárias enfrentam dificuldades em chegar a um consenso sobre os próximos passos da política monetária e alertou que os mercados financeiros não devem presumir um novo corte na taxa de juros ainda este ano.

“Nas discussões do comitê nesta reunião, houve opiniões muito diferentes sobre como proceder em dezembro”, afirmou Powell, acrescentando que “uma redução da taxa básica de juros na reunião de dezembro não pode ser colocada como certa. Longe disso, a política monetária não está em uma trajetória predefinida”.

Gráfico do Ibovespa com tendências de alta em meio a decisões do Fed.
Ibovespa reage a sinais de cautela do Fed.

Mercados Reagem Negativamente às Sinalizações

Gustavo Cruz destacou que o discurso de Jerome Powell gerou desânimo nos mercados, com uma perda de força em Wall Street e valorização do dólar no Brasil. Ele explicou que, no momento da decisão, a tendência seria de manutenção da taxa, mas Powell sinalizou uma divisão interna: metade dos dirigentes acredita na necessidade de dois cortes até o fim do ano, enquanto a outra metade entende que não há espaço para tal. “Os comentários dissuadindo as expectativas de que mais um corte está garantido foram recebidos de forma negativa pelo mercado e alguns indicadores viraram para o vermelho após a Entrevista”, apontou Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

A probabilidade de manutenção dos juros em dezembro, implícita nos contratos futuros, aumentou significativamente. “Ainda acreditamos que um corte de 0,25 é o mais provável, mas temos que reconhecer que Powell fez tudo o que pode para dizer que nada está garantido. De um lado, ainda não está clara a magnitude do esfriamento no mercado de trabalho. De outro, não sabemos se os impactos do tarifaço vão eventualmente impactar a trajetória da inflação de forma mais contundente. E para completar tudo indica que as discordâncias entre os membros do Fomc adicionam uma camada de incerteza sobre as perspectivas para a continuidade da política monetária nos EUA”, aponta.

Ainda assim, essa surpresa negativa não deve gerar grandes distorções, segundo Cruz, pois o Fed também anunciou o fim da redução de seu balanço, o que significa, na prática, um aporte de liquidez na economia. Powell reiterou que fatores como a paralisação do Governo americano (“shutdown”) não influenciam diretamente a decisão sobre juros, e que o comitê permanece focado em monitorar os indicadores de inflação e do mercado de trabalho.

Taxa Neutra e Inteligência Artificial

Powell também mencionou a possibilidade de a economia americana estar se aproximando da taxa neutra de juros, um nível que não estimula nem desacelera a atividade econômica. Essa percepção poderia justificar uma pausa em dezembro e possíveis cortes apenas a partir de janeiro.

Sobre a inflação, Powell reiterou que os impactos das tarifas comerciais ainda devem ser sentidos nos próximos meses, mas que não devem alterar o cenário base do Fed.

Um ponto de destaque foi a menção de Powell sobre o papel da inteligência artificial (IA) na economia. O presidente do Fed ressaltou que o cenário atual difere da bolha da internet, pois as empresas focadas em IA já possuem Receita e modelos de negócio estabelecidos. Ele também indicou que esse setor não deve ser diretamente afetado por pequenas variações nas taxas de juros, o que reforça a força estrutural desse movimento tecnológico, comparado à economia.

Fonte: InfoMoney

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