O Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos está projetado para realizar um novo corte nas taxas de juros, visando mitigar os riscos de enfraquecimento do mercado de trabalho. Apesar do prolongado shutdown do Governo americano, que resultou em um “apagão de dados”, a recente divulgação da inflação ao consumidor em setembro, realizada de forma excepcional, apresentou resultados melhores que o esperado. Essa conjuntura permite ao banco central prosseguir com a flexibilização da política monetária, além de possivelmente anunciar o fim do processo de redução de seu balanço de ativos, que soma trilhões de dólares.
Corte de Juros e Projeções Econômicas
A expectativa predominante, com cerca de 98% de probabilidade segundo a plataforma CME Group, é que o Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc) reduza os juros em 25 pontos-base (0,25%). Se concretizada, esta será a segunda redução consecutiva, levando a taxa básica americana para o intervalo de 3,75% a 4,00% ao ano. A paralisação da máquina pública nos EUA impactou a disponibilidade de informações cruciais para a economia, mas economistas indicam que o cenário do emprego não sofreu alterações significativas.
Antes da Suspensão do relatório de emprego de setembro (payroll) devido ao shutdown, os dados de agosto e julho já apontavam para um enfraquecimento, alimentando preocupações com uma desaceleração mais acentuada no mercado de trabalho e abrindo caminho para novas reduções nas taxas de juros pelo Fed.
Análises de Wall Street e Opiniões Divergentes
Diversas instituições financeiras de Wall Street recomendam que o Fed mantenha o curso de redução das taxas. O Bank of America sugere que o banco central não deve alterar sua política em um cenário de “voo às cegas”. O economista do Barclays para os EUA, Marc Giannoni, ressalta que o Fomc “não tem escolha a não ser conduzir a política monetária”, prevendo um corte de 25 pontos-base nesta reunião e outro em dezembro. Dados recentes da inflação nos EUA reforçaram essas expectativas, mesmo diante do shutdown histórico.
O Morgan Stanley não antecipa divergências significativas nos votos dos dirigentes do Fed. No entanto, o Barclays aponta para a possibilidade de um voto dissidente de Stephen Miran, indicado por Donald Trump, que poderia defender uma redução maior de 50 pontos-base. O economista sênior do Bank of America, Aditya Bhave, menciona a projeção de quatro dirigentes do Fed que indicaram apenas mais um corte de juros em 2024, mas não descarta a possibilidade de divergências por parte de Schmid ou Musalem.
Foco no Balanço do Fed e Comunicações de Powell
A conferência de imprensa do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, após a reunião, é um momento aguardado pelo mercado, especialmente pelas suas declarações sobre o rumo das taxas. O Goldman Sachs acredita que Powell reforçará as projeções de setembro, indicando um possível terceiro corte de juros em dezembro. Os economistas do banco, liderados por Jan Hatzius, observam que dados futuros do mercado de trabalho, impactados por demissões e pelo shutdown, podem não fornecer um sinal claro de “resolução” até lá.
Uma decisão que pode gerar grande atenção é o encerramento da redução do balanço de ativos de US$ 6,6 trilhões, conhecido como aperto quantitativo (QT). Powell já indicou que este processo pode estar perto do fim. O Bank of America espera que o anúncio ocorra já nesta reunião, constando inclusive no comunicado oficial. O Jefferies, outra instituição americana, não vê obstáculos para o Fed concluir essa etapa.
Fonte: Estadão