Esquerda Ganha Espaço nas Redes Sociais com Erros da Direita

Esquerda ganha força nas redes sociais explorando erros da direita e focando em pautas econômicas. Entenda a virada narrativa e as perspectivas para 2026.
esquerda ganha nas redes — foto ilustrativa esquerda ganha nas redes — foto ilustrativa

A esquerda brasileira tem experimentado uma ascensão notável nas redes sociais, capitalizando erros da direita e conquistando vitórias narrativas significativas desde meados de julho. Um levantamento exclusivo da AP Exata, obtido pelo Estadão, revela que o campo progressista assumiu a Liderança em diversas discussões políticas recentes, desde a guerra tarifária com os Estados Unidos até a tramitação da PEC da Blindagem.

Virada na Narrativa Digital

Durante grande parte do terceiro mandato do presidente Lula, a direita ditava o ritmo do debate online, como ocorreu nos episódios da descoberta de fraudes no INSS e da derrubada do decreto do IOF. Naquela época, Lula chegou a registrar quase 80% de menções negativas em plataformas como X e Instagram.

Fatores da Ascensão da Esquerda

Especialistas atribuem essa mudança a uma combinação de fatores. Segundo Sergio Denicoli, CEO da AP Exata, o avanço da esquerda se deve a um discurso mais organizado e à habilidade de explorar as falhas da direita, marcada por disputas internas. Ele pondera que, embora o momento seja favorável ao Governo, essa vantagem pode não se sustentar até as eleições do próximo ano.

“Nos últimos meses, ninguém discutiu o governo, e sim as ações equivocadas da direita, como a atuação de [Eduardo Bolsonaro] nos EUA, a anistia”, explicou Denicoli. “Na semana passada, a direita conseguiu se unir em torno da MP alternativa ao IOF, impondo a primeira derrota no digital em meses. Se essa união se mantiver, pode voltar a ter dominância narrativa. Enquanto isso não acontece, o governo respira e cresce nas pesquisas.”

Juliana Fratini, cientista política, observa que a esquerda passou a ter melhor desempenho ao focar em temas econômicos e de redistribuição de renda, em vez de pautas puramente identitárias. “O brasileiro, em geral, é conservador nos costumes e liberal na economia. Contar com algum tipo de apoio do governo federal, por meio de políticas públicas que garantam respiro financeiro ou desenvolvimento econômico, faz com que o espectro de esquerda tenha maior adesão positiva. Enquanto a conversa identitária afasta, a pauta econômica agrega”, comentou.

Campanha “Ricos x Pobres” e a Virada

A reação organizada à crise do IOF marcou um ponto de inflexão. A campanha petista com o mote “ricos contra pobres” impulsionou Lula a 64% de menções positivas e iniciou um novo ciclo narrativo. O posterior tarifaço de Donald Trump contra o Brasil deu novo fôlego à esquerda, que mobilizou a nação em torno da soberania nacional. Essa medida, inicialmente bem recebida por bolsonaristas, acabou gerando rejeição nas redes e evidenciando divisões na direita.

O episódio do 7 de Setembro, com a imagem de uma bandeira dos EUA em um ato bolsonarista, reforçou a narrativa da esquerda sobre o bolsonarismo atuar contra interesses nacionais. Posteriormente, a condenação de Jair Bolsonaro e a aprovação da PEC da Blindagem pela Câmara, que dificulta investigações contra parlamentares, criaram um cenário favorável para a esquerda retornar às ruas e dominar o debate digital.

No debate sobre a PEC da Blindagem, 46,7% das postagens vieram da esquerda, com avassaladora rejeição à medida. Já sobre a anistia, apesar da maior atividade numérica da direita, a opinião pública se manteve contrária.

Vitórias Legislativas e Econômicas

Mais recentemente, a aprovação do projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda para até R$ 5 mil e aumenta a tributação sobre os mais ricos coroou a sequência de vitórias do governo. Esse tema, uma promessa de campanha, rendeu dividendos principalmente a Lula.

Uma exceção à maré positiva da esquerda foi a derrubada da Medida Provisória 1.303, que previa medidas alternativas de arrecadação ao aumento do IOF. “A direita dominou a narrativa nesse caso. Não houve uma pressão popular a favor da MP, e prevaleceu a ideia de que o governo quer aumentar impostos”, avaliou Denicoli.

Perspectiva Bolsonarista: Erros e Desarticulação

Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro, aponta a ausência do ex-presidente nas redes e a desarticulação do grupo como fatores que permitiram o avanço da esquerda. “Há muito ruído e cacofonia dentro da própria direita, que não consegue se concentrar em um tema único”, afirmou, citando a PEC da Blindagem como exemplo de desvio de foco da pauta da anistia.

Wajngarten criticou a Falta de unidade e estratégia institucional no campo conservador. “Há três anos não temos o mínimo de comunicação partidária, nem diretrizes para filiados e apoiadores. O vazio de comunicação deixa esse público órfão. E não é por falta de recurso partidário, é ignorância”, concluiu.

O deputado federal Ricardo Salles (Novo-SP) concorda, atribuindo o crescimento da esquerda à “falta de estratégia e aos erros da direita”. Já o senador Cleitinho (Republicanos-MG) acredita que a esquerda aprendeu a usar o ambiente digital e adotou estratégias antes exclusivas da direita. Para ele, temas como o tarifaço e a PEC da Blindagem não são ideológicos e enfrentaram resistência no eleitorado conservador.

No PT, a leitura é de que a esquerda se fortaleceu ao focar em temas de interesse popular. “A agenda da direita é anistia, blindagem, impunidade e tarifaço, enquanto a agenda de Lula é a isenção do imposto de renda, taxação dos super-ricos, combate aos privilégios, fim da jornada 6×1, tarifa zero, ou seja, ações concretas para problemas reais do Brasil“, disse Éden Valadares, secretário de Comunicação do PT. Ele enfatiza a necessidade de manter a conexão com os anseios da sociedade e fortalecer a presença digital.

Fonte: Estadão

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