Empresário do PT cobiça patrimônio cultural; veja o escândalo

Empresário do PT tenta assumir patrimônio cultural em Brasília oferecendo terras griladas na Amazônia como garantia. Entenda o caso.
Patrimônio cultural em troca de terras griladas — foto ilustrativa Patrimônio cultural em troca de terras griladas — foto ilustrativa

Um empresário ligado ao PT, Fernando Nascimento da Silva Neto, está no centro de uma Polêmica em Brasília. Ele busca assumir a gestão da Fundação Brasileira de Teatro (FBT), um patrimônio artístico e cultural do país, em troca de uma fazenda de terras griladas na Amazônia. O método da negociação é questionável, envolvendo uma propriedade que não lhe pertence e um banco sob investigação.

A Cobiça pelo Teatro Dulcina

O foco do empresário é a Fundação Brasileira de Teatro (FBT), criada nos anos 1950 pela renomada atriz Dulcina de Moraes. A FBT, que abriga o Teatro Dulcina, é um símbolo do teatro brasileiro, mas enfrenta graves dificuldades financeiras. A má gestão e fraudes levaram a entidade à beira da falência, com dívidas que superam R$ 40 milhões.

A situação da FBT é tão crítica que o encerramento definitivo da fundação e a absorção de seu patrimônio pela União se tornaram possibilidades concretas. Dulcina de Moraes, que doou seu patrimônio para a construção do edifício, é lembrada como uma heroína da pátria, ao lado de figuras históricas como Machado de Assis e Zumbi dos Palmares.

Fachada do Teatro Dulcina em Brasília
Teatro Dulcina, em Brasília, é o foco da negociação.

O Método Problemático de Fernando Neto

Fernando Neto, dirigente do PT em Brasília e ex-procurador de José Dirceu, oferece como garantia para assumir a FBT uma fazenda com 96 mil hectares na Amazônia, maior que a cidade de Florianópolis. No entanto, essa área, conhecida como Fazenda Água Branca, está em região de grilagem, sobreposta a unidades de conservação e terras indígenas. O próprio dono registrado da propriedade, Valmir Martins de Paula, nega conhecimento sobre o uso da fazenda como garantia.

A negociação envolve o Atualbank, banco que já foi investigado pela Polícia Civil de São Paulo e pela Polícia Federal. O banco é conhecido por usar um lastro bilionário falso e ter ligações com um condenado por estelionato. O Estadão já revelou que o banco não é um banco e passou pelas mãos de um laranja.

O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) já suspendeu o Cadastro Ambiental Rural (CAR) da Fazenda Água Branca devido a indícios de informações falsas. O Incra também detectou irregularidades e barrou o registro da fazenda, que se sobrepõe a unidades de conservação.

Mapa mostrando a localização da Fazenda Água Branca na Amazônia
A Fazenda Água Branca, na Amazônia, alvo da negociação.

O Papel do Ministério Público e a Resistência

O Ministério Público do Distrito Federal (MPDF), através do promotor Evandro Gomes, acompanha o caso da FBT e demonstrou preocupação com as revelações. Gomes confirmou ter recebido Fernando Neto e que o empresário mencionou a Fazenda Água Branca como garantia. No entanto, o promotor ressalta que qualquer decisão final depende de sua análise e da viabilidade da proposta.

O atual presidente da FBT, Gilberto Rios, confirmou as reuniões com Fernando Neto, mas admitiu que as suspeitas sobre o banco e a fazenda levantaram um alerta. A análise jurídica da fundação também está em andamento para avaliar a situação. O advogado Claodemir Balotin, responsável pelo setor jurídico, afirmou que as suspeitas serão analisadas internamente.

Foto de Dulcina de Moraes
Dulcina de Moraes, atriz e criadora da FBT.

Quem foi Dulcina de Moraes?

Dulcina de Moraes (1908-1996) foi uma atriz brasileira que dedicou a vida ao teatro. Reconhecida por sua qualidade técnica e Defesa dos artistas, ela fundou a FBT em 1955 para formar novos talentos. Em 1972, vendeu seus bens no Rio de Janeiro para construir o atual edifício da fundação em Brasília. Em 2023, foi inscrita no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, por iniciativa da deputada Benedita da Silva (PT-RJ).

A Conexão com José Dirceu

Fernando Neto, filiado ao PT desde 2004, foi procurador de José Dirceu por cinco anos (2018-2023). Ele recebeu uma procuração de Dirceu pouco antes do ex-ministro se entregar à Polícia Federal. A assessoria de Dirceu informou que os vínculos foram cortados após indícios de que Neto estaria falando em seu nome. Apesar disso, a minuta de contrato para a gestão da FBT é de outubro de 2024, indicando que as negociações prosseguem.

Fonte: Estadão

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