A elite empresarial e intelectual de São Paulo expressou descontentamento com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante um jantar em homenagem a Gilberto Kassab (PSD). As críticas, segundo relatos de presentes, focaram nos chamados “erros e excessos bolsonaristas” do governador, vistos como um obstáculo para seu projeto político.



Contexto Político e Desalento na Elite
O jantar, realizado no apartamento de um influente membro do grupo ligado a questões sociais, reuniu cerca de 30 personalidades. O tom geral foi de desalento, uma vez que Tarcísio era considerado por muitos como uma alternativa viável da direita para a disputa presidencial, contrastando com a polarização atual. A audiência era diversificada, incluindo empresários como Luiza Trajano (Magazine Luiza) e Neca Setúbal (Itaú), além do ex-ministro Nelson Jobim e advogados como Pierpaolo Bottini.

Críticas à Aproximação com Bolsonaro e Impacto no Setor Produtivo
Um dos pontos de discórdia mencionados foi a postura de Tarcísio em relação ao legado de Jair Bolsonaro. Um empresário do setor médico criticou Tarcísio por ter, segundo ele, “inviabilizado o apoio do setor produtivo” ao se alinhar com o clã Bolsonaro em questões como a disputa tarifária com os Estados Unidos. Outros presentes apontaram o reforço do discurso bolsonarista por parte do ex-ministro da Infraestrutura, em um momento em que Bolsonaro enfrenta processos judiciais. A avaliação geral foi que Tarcísio desagradou tanto aqueles que o viam como moderado quanto os radicais bolsonaristas, que interpretaram suas falas como oportunismo.

Kassab e a Estratégia do PSD
Gilberto Kassab, que é Secretário de Governo de Tarcísio, manteve-se discreto sobre as críticas diretas. Ele comentou que a decisão de Tarcísio sobre uma possível candidatura presidencial ainda não foi tomada, mas que sua impressão é de que o governador buscará a reeleição ao Palácio dos Bandeirantes. Esse cenário se alinha com o plano de Kassab, que almeja uma vice-candidatura e, futuramente, a disputa pelo governo estadual em 2030. Kassab também criticou o bolsonarismo por seu radicalismo, citando os esforços de Eduardo Bolsonaro nos EUA em Defesa do pai, que resultaram em sentenças desfavoráveis para o ex-presidente.
Visões para o Futuro da Direita e o Papel do PSD
Kassab defendeu publicamente a candidatura de Ratinho Jr. (PSD-PR) para o campo da direita, omitindo Eduardo Leite (PSD-RS), que recentemente se filiou ao partido. Ele justificou a ausência de menção a Leite pela Juventude do governador gaúcho. O chefe do PSD previu que o partido terá uma bancada de cem deputados na próxima eleição, consolidando sua força municipal. Kassab reiterou a defesa de um perfil centrista clássico, distanciando-se tanto da esquerda liderada pelo PT quanto do bolsonarismo. Ele também mencionou Fernando Henrique Cardoso (PSDB), indicando um desejo de ocupar o espaço político deixado pelo PSDB em São Paulo.

Análise do Cenário Político e Legado de Lula
Kassab avaliou o momento político de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como favorável. Ele observou que o presidente Lula, cujo governo conta com três ministérios do PSD, parece ver Guilherme Boulos (PSOL-SP) como um herdeiro político, em vez de um petista como o ministro Fernando Haddad. Boulos, apesar de ter perdido duas eleições em segundo turno em São Paulo com apoio de Lula, é considerado capaz de carregar as bandeiras e a retórica de esquerda, características que, segundo Kassab, faltam nas hostes do próprio partido do presidente.
Fonte: Folha de S.Paulo