Eletrobras vende Eletronuclear para J&F e mira novo ciclo de investimentos

Eletrobras vende Eletronuclear para J&F por R$ 535 milhões. Venda elimina riscos, abre espaço para novos investimentos e dividendos, segundo analistas.
Eletrobras vende Eletronuclear — foto ilustrativa Eletrobras vende Eletronuclear — foto ilustrativa

A Eletrobras anunciou nesta quarta-feira (15) a venda de sua participação na Eletronuclear para o grupo J&F, da família Batista, em uma transação de R$ 535 milhões. Este acordo, com um simbolismo que transcende o valor financeiro, visa eliminar riscos e obrigações, abrindo caminho para um novo ciclo de investimentos e potenciais dividendos, segundo analistas de Mercado.

A alienação da participação na Eletronuclear era um objetivo da atual gestão da Eletrobras, privatizada há pouco mais de três anos. O negócio estava previsto no Termo de Conciliação firmado com a União, que redefiniu o poder de voto do Governo na companhia.

Em Entrevista recente, o presidente da Eletrobras, Ivan Monteiro, já indicava a possibilidade da venda ocorrer em curto prazo, dada a conversa com diversos interessados. Ele mencionou o interesse de investidores em energia nuclear, impulsionado pela crescente demanda por energia firme, especialmente de setores como Inteligência Artificial e data centers. No entanto, pairava certa desconfiança no mercado sobre a concretização.

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“É uma fonte que as pessoas consideram segura. E se você olhar o histórico de funcionamento de Angra 1 e Angra 2, é excelente, muito perto do centro de carga”, comentou Monteiro na época, ressaltando a localização estratégica das usinas em Angra dos Reis (RJ), próximo aos principais centros de consumo do país.

Essa característica foi enfatizada pela J&F no comunicado sobre a aquisição. “A energia nuclear combina estabilidade, previsibilidade e baixas emissões, características fundamentais em um momento de descarbonização e de crescente demanda por eletricidade impulsionada pela Inteligência Artificial e pela digitalização da economia”, declarou Marcelo Zanatta, presidente da Âmbar Energia, braço de eletricidade da J&F.

Detalhes da Transação e Impacto

Com o acordo, a Âmbar Energia assumirá 68% do capital total e 35,3% do capital votante da Eletronuclear, antes detidos pela Eletrobras. A União, embora não faça parte da transação direta, continuará com o controle da Eletronuclear através da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar), que detém 64,7% do capital votante.

Além do valor de R$ 535 milhões, a J&F/Âmbar assumirá a integralização de debêntures no valor de R$ 2,4 bilhões, acordadas no Termo de Conciliação com a União, bem como as garantias prestadas pela Eletrobras em favor da Eletronuclear.

A operação ainda requer a aprovação de órgãos reguladores, como a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Negociações com credores da Eletronuclear, em cujos financiamentos a Eletrobras figura como garantidora (somando R$ 6,1 bilhões junto a BNDES e Caixa), também são necessárias. A expectativa do mercado é que a conclusão ocorra apenas em 2026.

Reação do Mercado e Análises

A Eletrobras informou que a venda resultou em uma provisão de aproximadamente R$ 7 bilhões, a ser contabilizada no terceiro trimestre, baseada no valor de investimento registrado na Eletronuclear. Contudo, o foco dos analistas de mercado esteve na Eliminação do risco associado ao negócio, e não no impacto contábil.

Bernardo Viero, analista da Suno Research, classificou a venda como acertada, apesar do resultado contábil negativo. Ele destacou que a operação da Eletronuclear demandava alto capital para preservação, consumindo caixa. “No último ano, a geração de caixa operacional atingiu R$ 719,4 milhões, com R$ 1,8 bilhão sendo gasto em aquisições de imobilizado e intangível”, apontou Viero.

Para Viero, a Eletrobras fortalece seu caixa e se desvincula de um fator de risco relevante, permitindo maior concentração em suas operações de controle e geração de valor.

Os analistas do Citi, João Pimentel e Felipe Lenza, avaliaram a transação como “claramente positiva do ponto de vista estratégico”, por eliminar a exposição a um negócio não essencial, de alto risco e politicamente sensível, cumprindo compromissos da privatização. Eles também ressaltaram a remoção de passivos contingentes e garantias, a simplificação estrutural e a liberação de capital para reinvestimento.

A equipe de análise do Itaú BBA considerou a operação uma “surpresa positiva de curto prazo e marca o último grande evento de redução de risco desde a privatização”. Os analistas Filipe Andrade, Luiza Candiota e Victor Cunha mencionaram que o caixa recebido deve reduzir a alavancagem em cerca de 0,2 vez dívida líquida/Ebitda e pode viabilizar uma distribuição de dividendos adicional, embora considerem cedo para cravar um pagamento extraordinário.

Impulsionada pelo anúncio, a ação PNB da Eletrobras encerrou o dia com alta de 3,12%, cotada a R$ 56,25, enquanto a ON avançou 2,51%, atingindo R$ 53,14.

Fonte: Estadão

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