As eleições legislativas na Argentina, marcadas para 26 de outubro, ocorrem em um cenário de alta volatilidade econômica e política. Após dois anos de forte desempenho das ações argentinas, o ano atual é de incertezas sobre a continuidade das políticas fiscais e cambiais. Com prêmios de risco soberano acima de 1.000 pontos base, o ceticismo dos investidores é evidente, conforme aponta o Itaú BBA.
O banco ressalta que a Argentina conseguiu reduzir os gastos fiscais em 10,5% do produto interno bruto (PIB) ao longo de alguns anos, um feito reconhecido internacionalmente como um sucesso. No entanto, o grande desafio reside na transição de um modelo baseado em políticas fiscais e monetárias expansivas para um focado em investimento. O retorno deste último modelo leva tempo para se materializar, enquanto os cortes fiscais têm um efeito imediato.
Política Fiscal: Consolidação e Desafios
A política fiscal continua sendo um ponto central para o BBA. Os cortes implementados nos últimos anos reduziram as despesas em 10,5% do PIB, e o governo busca consolidar avanços na tributação e na redução de despesas. Contudo, alguns impostos distorcivos, como os que incidem sobre faturamento, transações financeiras e exportações, ainda geram tensão entre os interesses de setores dependentes de Transferências governamentais e a necessidade premente de manter o equilíbrio fiscal.
Política Cambial: Produtividade vs. Depreciação
Outro ponto crítico em análise é a futura política cambial, segundo o BBA. O Governo aposta em aumentar a produtividade e conter gastos como alternativas à depreciação da moeda. Enquanto isso, o mercado sinaliza a necessidade de maior flexibilidade cambial.
Com reservas limitadas e uma dependência significativa de linhas de apoio do Tesouro dos EUA, a evolução da taxa de câmbio real será um fator determinante para as taxas de juros, o consumo e o apetite dos investidores. A análise indica que a forma como o governo argentino lidará com essas questões terá reflexos diretos no comportamento do Mercado.
O Cenário Eleitoral e o Impacto nos Mercados
A fragmentação política na Argentina implica que coalizões pró-mercado ou alinhadas ao governo podem obter uma minoria de bloqueio no Congresso com cerca de 30% a 35% dos votos. Essa proporção garante capacidade de veto sobre legislações estratégicas. No entanto, a aprovação de reformas mais amplas exigirá a formação de alianças robustas, especialmente com governadores e no Senado, tornando a distribuição de votos por província um fator crucial.
Para o mercado de ações, o índice Merval já registrou um recuo de 45% em relação ao pico do ano passado, refletindo o clima de cautela. Analistas apontam que um resultado eleitoral favorável às forças pró-mercado, acompanhado da preservação do superávit fiscal, poderia impulsionar uma recuperação significativa. Isso se traduziria em maior demanda por pesos argentinos, taxas de juros mais baixas e a possível retomada do acesso ao mercado financeiro internacional.
Por outro lado, uma eleição desfavorável poderia agravar a pressão sobre as reservas, o câmbio e a confiança dos investidores. Nesse cenário, o Merval poderia atingir níveis ainda mais baixos, situando-se entre 500 e 700 pontos. Assim, as eleições de 26 de outubro representam um teste crucial para a confiança do mercado argentino, impactando diretamente as políticas fiscais e cambiais, o desempenho do setor de consumo e a trajetória das ações no curto e médio prazos, de acordo com a avaliação do BBA.
Fonte: InfoMoney