Dólar dispara para R$ 5,50 com risco fiscal e tensões EUA-China

Dólar dispara e atinge R$ 5,50 com investidores preocupados com risco fiscal no Brasil e tensões comerciais entre EUA e China. Bolsa cai.
Dólar dispara R$ 5,50 — foto ilustrativa Dólar dispara R$ 5,50 — foto ilustrativa

O dólar registrou uma forte alta nesta sexta-feira (10), avançando 2,39% e fechando o dia cotado a R$ 5,503. Este patamar não era visto desde o final de agosto, refletindo um cenário de aversão ao risco tanto no mercado doméstico quanto no Internacional.

Risco Fiscal Doméstico Pressiona o Mercado Brasileiro

No Brasil, o receio em relação à sustentabilidade das contas públicas voltou a dominar as discussões nos mercados financeiros. Investidores demonstraram cautela com o cenário fiscal do país, impactando a confiança.

Gráfico mostrando a cotação do dólar em relação ao real, indicando alta.
Dólar atinge R$ 5,50 em meio a preocupações com contas públicas e tensões internacionais.

Um dos fatores que contribuíram para essa inquietação foi o anúncio do novo modelo de crédito imobiliário pelo governo federal. As novas regras prevêem a liberação de depósitos compulsórios da poupança para facilitar o Acesso ao financiamento da casa própria pelo SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo). Essa medida, que visa injetar R$ 20 bilhões no mercado de crédito imobiliário, foi interpretada por alguns analistas como uma medida de cunho eleitoral para impulsionar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com vistas às eleições de 2026.

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A perspectiva de maior liquidez e possível aquecimento da economia através do setor imobiliário pode, segundo economistas como André Galhardo, gerar pressões inflacionárias e manter a taxa Selic elevada por mais tempo. Isso eleva as taxas de juros futuras e pode impactar a atratividade de ativos brasileiros.

Adicionalmente, a recente derrubada da MP (medida provisória) dos Impostos no Congresso Nacional adicionou mais um ponto de preocupação. A medida, considerada importante para a arrecadação e contenção de despesas obrigatórias, pode forçar um ajuste de R$ 35 bilhões no PLOA (projeto de Lei Orçamentária Anual) de 2026. Essa situação, combinada com a percepção de aumento nos gastos públicos às vésperas das eleições, pressiona a moeda brasileira frente a divisas mais seguras, como o dólar.

“A questão fiscal saiu da pauta recentemente, e o real estava se fortalecendo apoiado no diferencial de juros [entre Brasil e EUA] e na expectativa de enfraquecimento global do dólar. Mas não dá para ignorar o endividamento brasileiro por muito mais tempo”, avalia Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad.

Tensões Internacionais Amplificam a Aversão ao Risco

No cenário externo, novos embates entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a China intensificaram o movimento de aversão ao risco. Trump anunciou uma tarifa adicional de 100% sobre produtos chineses, rompendo com o otimismo anterior de uma trégua prolongada na guerra comercial. O líder americano afirmou não ver motivo para se reunir com o presidente chinês, Xi Jinping, e avaliou o aumento das tarifas como resposta a planos chineses de controle de exportações.

“Estamos vendo um movimento de aversão ao risco generalizado na economia global. Com a China voltando a figurar no foco de Trump, vemos um movimento de desvalorização de commodities, afetando as moedas mais sensíveis à exportação desses itens”, explica André Valério, economista-chefe do Inter.

Gráfico da bolsa de valores em queda, com indicadores negativos.
Bolsa de São Paulo acompanha a tendência global de baixa.

O conflito entre Israel e Hamas também teve seu impacto. O cessar-fogo anunciado derrubou os preços do petróleo no mercado internacional, o que tende a fortalecer o dólar frente a moedas de países fortemente exportadores da commodity, como o Brasil. O barril do Brent, referência global, caiu 3,88%, cotado a US$ 62,69.

“Essa queda também reforça a pressão sobre moedas de países considerados menos seguros”, pontua Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.

Impacto na Bolsa de Valores

A combinação de fatores de risco domésticos e internacionais impactou negativamente a Bolsa de Valores brasileira. O Ibovespa, principal índice do mercado acionário, fechou em queda de 0,72%, a 140.680 pontos, seguindo o mau humor das praças acionárias globais. Wall Street também sentiu o peso, com o S&P 500 caindo 2,48%, Nasdaq recuando 3,56% e Dow Jones em baixa de 1,9%.

Análise de Especialistas

Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, comenta que o mercado reage a notícias que indicam fragilidade do governo, pois acredita que uma mudança de governo pode resultar em uma gestão fiscal mais responsável. A percepção de que medidas recentes podem impulsionar a popularidade do governo, em vez de acalmar os investidores, gerou fuga de risco.

O cenário de juros futuros em alta, precificando uma taxa Selic mais longa, indica que o mercado imobiliário pode sustentar um ritmo de crescimento da economia acima do esperado. Isso, em conjunto com as incertezas fiscais, mantém o real sob pressão.

Fonte: Folha de S.Paulo

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