Dólar: Tensão EUA-China e riscos fiscais derrubam cotação no Brasil

Dólar abre em baixa com tensões comerciais EUA-China e riscos fiscais no Brasil. Entenda o impacto das notícias econômicas e políticas na cotação.
Dólar em baixa — foto ilustrativa Dólar em baixa — foto ilustrativa

O dólar abriu em baixa nesta segunda-feira, com investidores monitorando as negociações comerciais entre Estados Unidos e China. A divisa norte-americana registrava queda de 0,71%, cotada a R$ 5,463 às 9h49, divergindo do desempenho no exterior, onde o índice DXY, que compara o dólar com outras seis moedas globais, avançava 0,26%.

Na última sexta-feira (10), a moeda americana disparou 2,39%, encerrando a semana cotada a R$ 5,503, o maior patamar desde agosto. Essa volatilidade foi impulsionada pela aversão ao risco tanto no mercado doméstico quanto no Internacional.

Tensões Comerciais EUA-China e o Impacto Global

No cenário externo, novos embates entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a China reverteram o otimismo prévio dos mercados, que esperavam uma trégua comercial mais prolongada. Trump anunciou uma tarifa adicional de 100% sobre produtos chineses, o que gerou uma ameaça de medidas ‘firmes e correspondentes’ por parte da China caso os EUA não recuassem.

Gráfico do dólar em relação ao real, mostrando a volatilidade no mercado de câmbio.
Volatilidade do dólar: tensões internacionais e fatores domésticos influenciam a cotação.

A pressão global levou a moeda norte-americana a atingir uma máxima de R$ 5,518 durante a sessão de sexta-feira, um aumento de 14 centavos em relação ao fechamento de quinta-feira (R$ 5,374). Esse sentimento de aversão ao risco também contagiou a Bolsa, que fechou em queda de 0,72%, aos 140.680 pontos.

Riscos Fiscais e a Nova Política de Crédito Imobiliário

No Brasil, preocupações com o equilíbrio das contas públicas voltaram a dominar as mesas de operação. O novo modelo de crédito imobiliário, anunciado pelo governo federal, intensificou as inquietações dos operadores no mercado cambial.

As novas regras preveem a liberação total dos depósitos compulsórios da poupança para expandir o Acesso da classe média à casa própria via SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo). Essa medida deve injetar imediatamente R$ 20 bilhões para financiamentos imobiliários e aumentar o teto de imóveis financiáveis pelo SFH (Sistema Financeiro de Habitação) de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões.

Capa de jornal com notícia sobre política habitacional e o presidente Lula.
Governo Lula busca impulsionar a popularidade com novas medidas de crédito imobiliário.

Analistas apontam que essas mudanças visam fortalecer a popularidade do Governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) antes das eleições de 2026. Contudo, a perspectiva de maior atividade econômica e possíveis estímulos fiscais levantam preocupações sobre um repique inflacionário e a manutenção de taxas de juros elevadas.

“O mercado imobiliário pode manter um ritmo de crescimento da economia num patamar talvez um pouco mais forte do que o precificado anteriormente. Com consequência, as taxas de juros futuras sobem neste momento, talvez até precificando uma taxa Selic alta por um período mais prolongado”, afirma André Galhardo, economista-chefe da consultoria análise Econômica.

Impasses Orçamentários e a Pressão sobre o Real

Outro fator de risco significativo para o mercado foi o contexto dos gastos públicos. A derrubada da MP (medida provisória) dos Impostos no Congresso Nacional, considerada crucial pelo governo para sustentar a arrecadação e reduzir despesas, deve forçar um ajuste de R$ 35 bilhões no PLOA (projeto de Lei Orçamentária Anual) de 2026.

Essa decisão restringe o espaço fiscal do governo e torna mais desafiadora a tarefa de cumprir as metas estabelecidas pelo arcabouço fiscal. Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, destaca que a percepção de aumento dos gastos públicos às vésperas das eleições pressiona o real.

“A questão fiscal saiu da pauta recentemente, e o real estava se fortalecendo apoiado no diferencial de juros [entre Brasil e EUA] e na expectativa de enfraquecimento global do dólar. Mas não dá para ignorar o endividamento brasileiro por muito mais tempo.”, explica Zogbi.

Presidente dos EUA, Donald Trump, em discurso.
Donald Trump intensifica tensões com a China, afetando mercados globais.

Cenário Internacional Agrava a Aversão ao Risco

O cenário doméstico estressado se somou a eventos internacionais negativos. A ameaça de Donald Trump à China intensificou o movimento de alta da divisa norte-americana. Trump afirmou que não vê motivos para se reunir com o líder chinês, Xi Jinping, e avalia um “aumento massivo” nas tarifas sobre produtos chineses.

Essa escalada de tensões levou a uma aversão ao risco generalizada na economia global. “Com a China voltando a figurar no foco de Trump, vemos um movimento de desvalorização de commodities, afetando as moedas mais sensíveis à exportação desses itens”, comenta André Valério, economista-chefe do Inter.

O sentimento global afetou as bolsas de Wall Street, com o S&P 500 caindo 2,48%, o Nasdaq despencando 3,56% e o Dow Jones recuando 1,9%. Adicionalmente, o fim da guerra entre Israel e Hamas contribuiu para a queda dos preços do petróleo, fortalecendo o dólar ante moedas de países exportadores de commodities, como o Brasil.

“Essa queda também reforça a pressão sobre moedas de países considerados menos seguros”, conclui Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.

Fonte: Folha de S.Paulo

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