A anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro e a discussão sobre a ditadura militar têm ganhado força no plenário da Câmara dos Deputados. Um levantamento recente revela que o termo “ditadura militar” foi citado ao menos 250 vezes nos últimos dois anos e cinco meses, evidenciando a polarização do debate político.


Do total de manifestações, 46% abordam diretamente a anistia ao 8 de Janeiro ou a destruição das sedes dos Três Poderes. A análise, realizada pela Folha, abrange o período de 8 de janeiro de 2023 a 10 de junho de 2025, data em que o ex-presidente Jair Bolsonaro foi interrogado na ação penal relacionada aos atos antidemocráticos.
O levantamento, que buscou o termo “ditadura militar”, não abrange todas as menções possíveis, mas oferece um panorama significativo. Em paralelo, a pressão bolsonarista por anistia se intensifica, enquanto o centrão na Câmara busca alternativas, como o PL da Dosimetria, para a redução de penas.

Pico de Menções e Envolvimento Partidário
O dia com o maior número de citações sobre a ditadura militar foi 1º de abril de 2025, data que marca o aniversário do golpe de 1964, com 35 menções. Segue-se 26 de novembro de 2024, impulsionado pelo indiciamento de Bolsonaro na trama golpista, e 26 de março de 2025, quando o ex-presidente se tornou réu no caso.
Partidos como o PT (112 menções) e o PSOL (59 menções) foram os que mais abordaram o tema. O PL aparece em terceiro, com 21 menções.
Classificação das Manifestações sobre Ditadura Militar
As menções foram divididas em cinco grupos: 1) contra regimes ditatoriais; 2) a favor ou justificando uma ditadura; 3) com foco na anistia ao 8 de Janeiro; 4) crítica relativizando a gravidade de ditaduras ou comparando a democracia atual a um cenário ditatorial; e 5) comentários neutros ou breves.
O grupo majoritário (188 menções) se posicionou contra regimes ditatoriais, lembrando os horrores do período, como torturas e mortes. Deputados citaram o posicionamento de Bolsonaro a favor de torturadores e homenagens a perseguidos pelo regime de 1964.

Discursos Favoráveis e Críticas à Democracia
Cinco discursos, todos de parlamentares do PL, foram classificados como favoráveis ou que justificam a ditadura. Deputados como Zé Trovão (PL-SC) e Nelson Barbudo (PL-MT) fizeram declarações polêmicas, minimizando o período ou defendendo a repressão.
Um terceiro conjunto de parlamentares defendeu explicitamente a anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro, comparando a situação com o perdão de 1979. Figuras como Débora Rodrigues e referências a ex-presidente Dilma Rousseff foram citadas.
A quarta categoria incluiu discursos que criticavam a esquerda por supostamente não condenar regimes autoritários aliados e que apontavam para uma “ditadura do Judiciário” ou risco à liberdade de expressão. Essa narrativa é frequente entre parlamentares de direita, extrapolando as menções diretas ao termo “ditadura militar”.
Um grupo final de 38 falas foi classificado como neutro ou não identificado. Destaque para parlamentares como Erika Kokay (PT-DF), Chico Alencar e Ivan Valente (PSOL-SP), que mais falaram sobre o tema, majoritariamente em contraponto a regimes antidemocráticos.
Fonte: Folha de S.Paulo