O Prêmio Nobel de Economia de 2025, concedido a Philippe Aghion e Peter Howitt (e também a Joel Mokyr), solidificou o conceito de destruição criadora como motor fundamental do crescimento econômico. Essa teoria, originária de Joseph Schumpeter, explica como inovações tecnológicas impulsionam o progresso, mesmo que causem a extinção de profissões e setores.
Segundo o economista Samuel Pessôa, do BTG Pactual e FGV-IBRE, o trabalho dos premiados demonstra que o avanço tecnológico inevitavelmente deixa perdedores. Desde a Revolução Industrial, que deslocou artesãos com a introdução de máquinas, a história econômica tem sido marcada por um ciclo contínuo de inovações que aumentam a produtividade, mas também eliminam postos de trabalho e indústrias inteiras.
Contexto do Prêmio Nobel de Economia
Pessôa, um especialista nos temas que definiram o Nobel deste ano, associa a atual onda de populismo de direita em várias partes do mundo a pessoas que foram deixadas para trás pelas transformações tecnológicas. Em uma economia moderna, a automação e os sistemas digitais substituem trabalhadores em diversos níveis, desde operários fabris até profissionais de escritório.
“As mudanças tecnológicas do nosso tempo reduzem a demanda pelas pessoas com ensino Técnico“, observa o economista. Essa tendência, que afeta particularmente os países mais ricos do Hemisfério Norte, pode ser uma das chaves para entender a ascensão do populismo de direita nesses locais.
Uma perspectiva adicional sobre o fenômeno é que o benefício social do progresso tecnológico é ligeiramente inferior ao benefício privado. Isso ocorre devido aos danos causados aos indivíduos e setores que não se adaptam às novas tecnologias. Essa externalidade negativa justifica a implementação de políticas públicas voltadas para apoiar aqueles mais afetados pelas mudanças. A ausência ou insuficiência desses programas nos Estados Unidos, por exemplo, é apontada como um fator que contribuiu para a força do populismo de direita no país.
O Papel de Joel Mokyr na Compreensão da Inovação
Em relação a Joel Mokyr, outro ganhador do Nobel e renomado historiador da tecnologia, Pessôa destaca que ele enfatizou a natureza incremental de muitos avanços tecnológicos. Mokyr também documentou o importante processo que Transforma uma descoberta inicial em um uso rentável e difundido.
O historiador econômico esteve envolvido em um debate crucial com Douglass North (também ganhador do Nobel) sobre as razões pelas quais a Revolução Industrial se originou na Europa. Enquanto North ressaltava a importância das instituições para o desenvolvimento econômico, Mokyr, sem descartar esse fator, também defendia a relevância dos modelos mentais.
Mokyr salientou o papel do Iluminismo na Europa, que fomentou a curiosidade, o debate, o pensamento especulativo e a receptividade a mudanças disruptivas. Esses elementos foram cruciais para a construção do conhecimento e o avanço tecnológico. Ele também explorou a interconexão entre a evolução da ciência e da tecnologia, argumentando que a compreensão científica é essencial para a continuidade do processo de inovação que caracteriza as economias modernas.
A Reflexão para o Brasil
Pensando no contexto brasileiro, Pessôa sugere que o Nobel de Economia deste ano deve inspirar uma reflexão sobre a dificuldade da sociedade brasileira em conviver com a “destruição criadora”. No Brasil, observa-se uma resistência notável a perdas, evidenciada pela prevalência do conceito de “direito adquirido”. Esse mecanismo legal, embora proteja determinados grupos, frequentemente obstrui mudanças benéficas para a sociedade como um todo.
“O processo de desenvolvimento econômico não é indolor, e nossa sociedade, ao criar mecanismos para impedir perdas, trava o aumento da produtividade, essencial ao crescimento”, conclui Pessôa. A superação dessa barreira é vista como fundamental para impulsionar a produtividade e garantir o crescimento econômico sustentável no país.
Fonte: Estadão