Ditadura: Ataque à Imprensa Produziu Últimos Desaparecidos em 1975

Há 50 anos, ofensiva do CIE contra o PCB e imprensa resultou nos últimos desaparecidos da ditadura em 1975. Entenda os detalhes.
últimos desaparecidos da ditadura — foto ilustrativa últimos desaparecidos da ditadura — foto ilustrativa

Há 50 anos, em 1975, a ofensiva do Centro de Informações do Exército (CIE) contra a imprensa clandestina marcou um ponto crítico na ditadura militar brasileira. O regime encerrou o ano com um plano que visava sufocar jornalistas profissionais e produziu os dois últimos desaparecimentos de opositores políticos registrados durante o período.

Orlando Bonfim Júnior, um dos últimos dirigentes do Partido Comunista do Brasil (PCB) ainda no país, tinha a missão de restabelecer a impressão da Voz Operária, jornal mensal clandestino da sigla. No entanto, ele sabia dos riscos iminentes ao sair de casa em 8 de outubro daquele ano.

A Infiltração e a Queda de Dirigentes do PCB

A ação do CIE contra o PCB contou com a colaboração de Severino Theodoro de Mello, um veterano dirigente que, após ser preso, fez um acordo com os militares. Através dele, agentes do DOI do 2.º Exército identificaram outros líderes envolvidos na impressão clandestina, como Raimundo Alves de Sousa e Hiram de Lima Pereira. Os encontros desses militantes, que atuavam em gráficas clandestinas do partido em São Paulo e no Rio de Janeiro, foram meticulosamente documentados pelos órgãos de repressão.

Sousa foi o primeiro a ser detido ao chegar ao Aeroporto de Congonhas. Pouco tempo depois, Hiram também foi capturado. Ambos foram levados para um local conhecido como “a boate”, um imóvel rústico utilizado como centro de interrogatório e tortura pelo DOI.

A perda das gráficas clandestinas visava desarticular não apenas a estrutura do partido e silenciar o jornal Voz Operária, mas também iniciar um ataque direto aos jornalistas profissionais. Militares criaram listas com nomes de profissionais de diversas redações, sob a acusação de infiltração comunista.

Análise sobre a repressão à imprensa durante a ditadura.

Operação Contra a Imprensa e o Caso Herzog

Um relatório do DOI destacava que os “meios de comunicação de massa” em São Paulo eram historicamente alvos de “infiltração comunista”. O documento listava suspeitas de células comunistas em revistas como Veja, Visão e Realidade, além de ligações com escolas de jornalismo e sindicatos. Veículos como o Estadão, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, Diário Popular, Rede Globo e rádios como Bandeirantes foram mencionados.

Antes do ataque mais amplo à imprensa, os agentes do DOI-Codi intensificaram as ações para impedir a circulação da Voz Operária. Em 29 de setembro de 1975, pouco antes da morte do jornalista Vladimir Herzog, foi detido José Montenegro de Lima, o Magro, dirigente da Seção Juvenil do PCB. Ele era responsável por organizar uma nova gráfica para o partido e deveria trabalhar com Orlando Bonfim.

Após sua prisão, Magro foi levado para um cárcere clandestino onde foi torturado por aproximadamente dez dias. No dia seguinte ao seu encontro previsto com a namorada, Sandra Maria Lisboa Nogueira, ele não apareceu, já tendo sido capturado.

Execuções e o Legado da Ditadura

Bonfim também foi levado para o mesmo sítio em Araçariguama, na Grande São Paulo, onde Magro era mantido. Ali, ambos foram executados na segunda semana de outubro com injeções de curare. Os corpos foram amarrados em blocos de concreto e transportados até a região de Avaré, onde foram lançados no Rio Avaré. Essas foram as últimas mortes de opositores registrados pela ditadura após serem presos.

A Voz Operária só voltou a ser impressa no Brasil após a anistia, em 1979. Rogério Sottili, diretor-executivo do Instituto Vladimir Herzog, comentou: “Ontem, como hoje, por trás dos ataques ao jornalismo como profissão, está um mesmo projeto autoritário”. As ações do DOI-Codi continuaram, culminando na série de prisões que incluíram o caso Vladimir Herzog.

Fonte: Estadão

Adicionar um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Imagens e vídeos são de seus respectivos autores.
Uso apenas editorial e jornalístico, sem representar opinião do site.

Precisa ajustar crédito ou solicitar remoção? Clique aqui.

Publicidade