Delegado repudia tortura em local onde Herzog morreu há 50 anos

Delegado Marcelo Palhares, do 36º DP, repudia tortura em local onde jornalista Vladimir Herzog morreu há 50 anos. Delegacia opera onde funcionava o DOI-Codi.
tortura — foto ilustrativa tortura — foto ilustrativa

O delegado titular do 36º Distrito Policial (Vila Mariana), Marcelo Palhares, declarou que jamais seria conivente com tortura e violência por parte da polícia. A delegacia que ele comanda funciona no endereço onde se instalou o DOI-Codi paulistano, principal centro de tortura e repressão a opositores da ditadura. Entre os mortos após tortura no local, está o jornalista Vladimir Herzog.

O DOI-Codi e o Legado de Repressão

Fundado como Oban (Operação Bandeirante) em 1969 e depois rebatizado como DOI-Codi, o órgão de inteligência e repressão da ditadura, encabeçado pelo Exército e com participação policial, foi responsável pela morte de dezenas de presos políticos e pela tortura de milhares até 1974. Atualmente, a delegacia divide espaço com prédios desativados do complexo, que servem para visitas educativas e escavações arqueológicas, com planos de se tornarem um memorial.

Fachada do prédio que abriga o 36º DP em São Paulo.
Fachada do prédio que abriga o 36º DP em São Paulo.

Declarações do Delegado Palhares

Marcelo Palhares, que tinha 60 anos na época da entrevista e era criança quando Herzog morreu, afirmou: “Eu era criança naquela época. Tenho que me ater ao meu trabalho: não sou historiador, sou delegado de polícia”. Ele completou: “Claro que conheço a história, mas não posso compactuar com violência, com métodos como tortura. Não posso ser conivente com isso jamais”. O delegado exaltou o trabalho da Polícia Civil de São Paulo, destacando sua estrutura e tecnologia como suficientes para dispensar o uso da violência, exceto em resposta a ações criminosas.

Ao ser questionado sobre a alta letalidade policial da PM de São Paulo, Palhares ressaltou que falava apenas pela Polícia Civil. Sobre a intenção do Ministério Público de transformar o complexo em memorial, defendeu a permanência da delegacia no local, afirmando que “pessoas de bem gostam de delegacia, quem tem medo de delegacia é bandido”.

Interior do 36º DP, destacando a ausência de celas.
Interior do 36º DP, destacando a ausência de celas.

Convivência e Modernização da Delegacia

A princípio, um acordo entre o Ministério Público e o Governo de São Paulo prevê a cessão dos demais prédios do complexo para o memorial, com a delegacia continuando a funcionar normalmente. Palhares mencionou que a convivência com pesquisadores ligados a direitos humanos que atuam no complexo é harmoniosa e respeitosa, evidenciada pela presença de uma xícara com a logomarca do Núcleo Memória em sua mesa. O 36º DP passou por reformas, eliminando carceragens e melhorando o ambiente, tornando-o menos hostil do que em décadas passadas.

Fonte: Folha de S.Paulo

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