Crise nos Correios: entenda os fatores por trás de 12 trimestres de prejuízo

Entenda os motivos por trás da crise financeira dos Correios, com 12 trimestres seguidos de prejuízo e um déficit bilionário. Saiba quais fatores levaram a estatal a essa situação.
Crise nos Correios — foto ilustrativa Crise nos Correios — foto ilustrativa

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, os Correios, enfrenta uma crise econômico-financeira persistente que se estende desde meados de 2022. São 12 trimestres consecutivos de prejuízos, acumulando um Déficit de R$ 4,36 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025. A estatal anunciou recentemente a busca por um empréstimo de R$ 20 bilhões para tentar conter a situação e normalizar as operações.

Fachada dos Correios
Crise nos Correios se arrasta por anos.

O termo “déficit” indica que os gastos da empresa superaram significativamente as receitas obtidas. Os resultados negativos ininterruptos levaram a estatal a registrar o primeiro prejuízo bilionário desde 2016. Em 2024, o rombo foi de R$ 2,6 bilhões, e o déficit semestral de 2025 já soma R$ 4,36 bilhões.

Gastos Elevados com Pessoal

Um dos principais motores da crise é o alto custo com pessoal. Ajustes salariais significativos, incluindo um reajuste de 9,75% retroativo a agosto de 2021 e outro de 10,12% em 2023, além de abonos indenizatórios, elevaram os gastos com folha de pagamento em centenas de milhões de reais anualmente. Em 2024, um novo acordo coletivo elevou os gastos em R$ 894 milhões, e no primeiro semestre de 2025, o aumento foi de R$ 547 milhões. Adicionalmente, um acordo para assumir uma dívida de previdência complementar somou R$ 2,4 bilhões em pagamentos imediatos e prevê outros R$ 5,4 bilhões ao longo do tempo.

Impacto do Programa Remessa Conforme

O programa “Remessa Conforme”, implementado pelo Ministério da Fazenda em 2023, também impactou diretamente as finanças dos Correios. A cobrança de imposto de importação de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50, conhecida como “taxa das blusinhas”, permitiu que empresas de transporte alternassem a distribuição, reduzindo a dependência dos Correios. A estatal estima uma frustração de Receita de R$ 2,2 bilhões desde a implementação do programa. A receita com encomendas internacionais caiu R$ 531 milhões em 2024 e R$ 1,3 bilhão no primeiro semestre de 2025 em comparação com o ano anterior.

Caminhão dos Correios em movimento
Programa Remessa Conforme afetou receita.

Fluxo de Caixa Atingido e Empréstimos

A combinação de aumento de despesas e queda nas receitas pressionou severamente o fluxo de caixa. Em 2023, os Correios possuíam R$ 3,2 bilhões em caixa, valor que caiu para R$ 249 milhões ao final de 2024. A falta de liquidez levou a empréstimos emergenciais, totalizando R$ 550 milhões em 2024 com bancos como Daycoval e ABC, e R$ 1,8 bilhão de um consórcio de bancos em junho de 2025. A estatal já suspendeu o pagamento de R$ 2,75 bilhões em obrigações com fornecedores e tributos para preservar liquidez. O novo empréstimo de R$ 20 bilhões busca quitar dívidas e reestruturar a empresa.

“Com foco na continuidade das operações, essa iniciativa teve como objetivo central preservar a liquidez e reequilibrar, ainda que temporariamente, a estrutura do fluxo de caixa, mitigando os efeitos imediatos do desequilíbrio financeiro entre entradas e saídas”, afirma a empresa.

Investimentos Estratégicos e Precatórios

Apesar das dificuldades financeiras, os Correios investiram R$ 830 milhões em 2024, totalizando R$ 1,6 bilhão desde o início da nova gestão. Os investimentos incluem a aquisição de veículos elétricos e bicicletas cargo, além da renovação da frota e manutenção da infraestrutura. A empresa reafirma seu compromisso com a sustentabilidade e soluções tecnológicas. Por outro lado, despesas com precatórios dispararam, atingindo R$ 1,6 bilhão em junho de 2025 devido a acordos para reduzir processos trabalhistas. A estimativa é de R$ 913 milhões a serem pagos ainda em 2025.

Agente dos Correios entregando encomenda
Investimentos em frota e infraestrutura continuam.

Unidades Deficitárias e Medidas de Reestruturação

A maioria das 10.638 unidades de atendimento dos Correios (85%) opera com déficit, o que exige subsídios para garantir o acesso universal aos serviços postais, conforme exigência da União Postal Universal (UPU). Para reverter o quadro, o atual presidente, Emmanoel Schmidt Rondon, anunciou um plano de reestruturação com foco em corte de despesas, diversificação de receitas e recuperação de liquidez. As medidas incluem um novo Plano de Demissão Voluntária (PDV), venda de imóveis ociosos, renegociação de contratos e lançamento de novos produtos e um marketplace próprio. Um empréstimo de R$ 20 bilhões é visto como crucial para a sustentabilidade e para viabilizar um futuro Plano de Demissão Voluntária.

Mapa do Brasil com rotas dos Correios
85% das unidades dos Correios operam com déficit.

Privatização como Alternativa?

Em meio à crise, o debate sobre a privatização dos Correios retorna aos bastidores. Juristas apontam a necessidade de um debate pragmático sobre o modelo de gestão mais eficiente para a empresa e para o cidadão. No entanto, a complexidade de desmembrar a estatal, que precisa atender a todos os municípios, apresenta desafios significativos, semelhantes aos de universalização de outros serviços públicos. A busca por modelos que associem operações rentáveis a frentes deficitárias seria essencial em um eventual processo de concessão ou privatização.

Logotipo dos Correios em prédios
Privatização é discutida como alternativa.

Fonte: G1

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