Crise de Chips: Locadoras de Carros em Alerta na B3

Uma nova crise global envolvendo semicondutores acendeu o alerta em diversas indústrias, com potencial para impactar também o Mercado automotivo brasileiro e as locadoras de veículos listadas na B3. A disputa por esses componentes essenciais ameaça a produção de carros, gerando preocupações sobre o fornecimento e os preços.

Alerta da Indústria Automotiva

Órgãos da indústria automotiva soaram o alarme após o Governo holandês assumir o controle da Nexperia, produtora de semicondutores de propriedade chinesa, citando preocupações com propriedade intelectual. Paralelamente, a China impôs restrições à exportação de produtos acabados, cruciais para montadoras em todo o mundo.

No Brasil, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) comunicou um risco iminente de paralisação na produção de automóveis. Segundo Igor Calvet, presidente da entidade, notificações indicam uma interrupção no fornecimento de peças que pode afetar as linhas de montagem nas próximas semanas.

O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças-Abipeças) enviou uma carta ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, solicitando apoio governamental. O documento alertou para uma redução significativa na disponibilidade de componentes eletrônicos vitais para veículos leves, comerciais e industriais.

Impacto Histórico e Projeções

O Bradesco BBI relembra que, entre 2020 e 2022, a escassez de chips durante a pandemia de COVID-19 causou severas interrupções na cadeia de suprimentos global. Naquele período, observou-se:

• Redução na produção de veículos por montadoras.
• Desvio da produção para SUVs, com margens maiores.
• Aumento expressivo nos preços de carros novos e usados.
• Diminuição do poder de barganha das locadoras, com descontos menores e compra de um mix de veículos menos acessível.

Implicações para Locadoras de Veículos

A crise atual pode trazer implicações significativas para as locadoras de veículos brasileiras, como Localiza e Movida. O capital investido pode se tornar mais caro, caso as montadoras elevem os preços dos carros novos. Para manter a rentabilidade, as locadoras podem ser forçadas a aumentar os preços dos aluguéis, um cenário delicado em um setor com alta sensibilidade a preços e em um contexto macroeconômico desafiador.

Embora os preços dos carros usados também possam subir no curto prazo, beneficiando a redução de custos com depreciação, a piora nas condições de compra e os preços elevados podem, a longo prazo, reverter esse quadro. O Bradesco BBI aponta que os aumentos de preços pelas montadoras podem ser mais difíceis de implementar agora, devido à menor acessibilidade e às altas taxas de juros, sugerindo que parte dos custos adicionais pode ser absorvida pelas próprias montadoras.

Se a escassez de semicondutores prejudicar a produção de carros novos, o impacto líquido no setor de locação tende a ser negativo. Isso pode se traduzir em piores condições de compra e na necessidade de repassar custos, impactando a rentabilidade.

Um ponto positivo a médio prazo é a possibilidade de a venda desses veículos coincidir com um cenário de juros mais baixos e um ambiente macroeconômico mais favorável, o que poderia mitigar o efeito da depreciação. Além disso, o aumento nos preços dos carros pode ser positivo para os lucros de curto prazo, reduzindo a depreciação e melhorando as margens EBITDA dos seminovos.

Recomendação de Analistas

O Bradesco BBI mantém a recomendação outperform (desempenho acima da média) para as ações da Localiza (RENT3) e Movida (MOVI3). Os analistas destacam que os papéis apresentam um desconto superior a 50% em relação ao histórico, indicando potencial de valorização apesar dos desafios conjunturais.

Fonte: InfoMoney