O Governo federal anunciou uma nova política de crédito habitacional que promete injetar cerca de R$ 35 bilhões no mercado imobiliário, focando em um segmento crucial: a classe média. A medida visa descongelar as vendas de imóveis para famílias com renda entre R$ 12 mil e R$ 20 mil, que têm enfrentado dificuldades em adquirir a casa própria.
A iniciativa, detalhada nesta sexta-feira (10), inclui novas regras para o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Prevê a liberação de 5% dos depósitos compulsórios da poupança retidos no Banco Central e um aumento no teto do SFH (Sistema Financeiro da Habitação) para R$ 2,25 milhões, com taxa de juros limitada a 12% ao ano.
Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e os ministros Jader Filho (Cidades) e Fernando Haddad (Fazenda) estiveram presentes no anúncio, sublinhando a importância estratégica do programa.
Otimismo do Setor Imobiliário
A nova estrutura de financiamento imobiliário busca combater a queda livre na captação líquida da poupança, que tem forçado o setor a recorrer a fontes de crédito mais caras, como LCI e CRI. A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) elogiou a medida, considerando-a um avanço significativo para ampliar o Acesso à casa própria e fortalecer o mercado. A entidade ressaltou que a proposta abre caminho para um novo ciclo de crescimento, geração de emprego e renda.
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) também expressou otimismo, acreditando que as mudanças estimularão novos investimentos. Segundo Renato Correia, presidente da CBIC, haverá maior flexibilidade para os recursos do SBPE, um setor que emprega mais de 3 milhões de pessoas no Brasil.
Impulso Essencial para a Classe Média
Especialistas apontam que a nova política é particularmente benéfica para a classe média, historicamente menos atendida por programas habitacionais. Fábio Tadeu Araujo, CEO da Brain, destaca que esse segmento é o mais afetado pelo aumento dos preços dos imóveis e carecia de apoio. Com programas como o Minha Casa, Minha Vida atendendo à baixa renda e a classe alta tendo menos dependência de subsídios, a classe média necessitava de um reforço na disponibilidade de crédito.
Thiago Yaak, CEO da Liquid, vê a modernização do SBPE e a integração com o Mercado de capitais como passos essenciais para garantir liquidez e previsibilidade. Ele acredita que, se bem executada, a transição pode iniciar um novo ciclo de crédito e habitação mais competitivo e acessível, com impactos positivos na construção civil e no emprego.
Marcos Rogério Dutra, vice-presidente da BRZ Empreendimentos, corrobora essa visão, afirmando que o novo modelo alcançará famílias que antes não tinham acesso a crédito habitacional, permitindo que saiam do aluguel. Ele observa que as faixas de renda até R$ 12 mil são atendidas pelo Minha Casa Minha Vida, mas acima disso, as opções eram limitadas a linhas de crédito mais caras.
Detalhes da Liberação de Crédito
A medida prevê a redução do depósito compulsório de 20% para 15% para instituições financeiras que aderirem ao novo modelo, liberando cerca de R$ 20 bilhões em recursos da poupança para crédito imobiliário, com potencial de atingir R$ 35 bilhões. Adicionalmente, os bancos poderão usar o mesmo valor emprestado em crédito imobiliário para investir em aplicações mais rentáveis por cinco anos.
Atualmente, 65% dos recursos da poupança são destinados ao crédito imobiliário, 20% vão para o Banco Central e 15% podem ser aplicados livremente. A nova política altera essa distribuição, aumentando a destinação para funding imobiliário de 65% para 70%, enquanto o compulsório cai de 20% para 15%.
Aumento do Teto do SFH
O valor máximo dos imóveis financiados pelo SFH foi elevado de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões. Com essa alteração, a Caixa Econômica Federal tem a previsão de financiar cerca de 80 mil novas moradias até 2026. Deste montante, 80% dos recursos liberados para crédito imobiliário serão direcionados ao SFH com juros de até 12% ao ano, e os 20% restantes para o SFI (Sistema Financeiro Imobiliário), com taxas de mercado.
O período de testes das novas medidas se estende até o final de 2026, com a plena implementação do modelo prevista para 2027.
Fonte: Estadão