A recém-instalada CPI do Crime Organizado no Senado se configura como mais um palco para a disputa política entre Governo e oposição, visando a projeção midiática em um ano eleitoral. Apesar da expectativa popular por ações concretas contra o crime, o histórico sugere que tais comissões frequentemente se resumem a debates acalorados sem resultados práticos significativos.
Diante do apoio público à recente operação policial contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro, o Congresso Nacional sentiu a pressão para dar uma resposta à sociedade. Essa mesma pressão levou ao veto da PEC da Blindagem na Câmara, medida que visava restringir investigações criminais contra parlamentares e líderes de partidos.
Governo Garante Presidência da CPI
Após perder o controle da CPI do INSS, o Palácio do Planalto mobilizou seus aliados para a sessão de instalação da CPI do Crime Organizado. Por uma margem apertada de um voto, o governo obteve sucesso na eleição do senador Fabiano Contarato (PT-ES) para a presidência da comissão. A vice-presidência ficou com o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice de Jair Bolsonaro.
O relator da CPI será Alessandro Vieira (MDB-SE), que também possui formação como delegado. Foi dele o requerimento que deu origem à comissão, engavetado por meses até o recente episódio de violência no Rio.
Governador do Rio Busca Apoio em Brasília
Paralelamente à instalação da CPI, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), realizou uma série de encontros em Brasília. O objetivo foi angariar apoio de presidentes e líderes partidários do Centrão para barrar a PEC da Segurança, proposta enviada pelo governo federal. Castro argumenta que a proposta interfere na autonomia dos estados.
A situação de Castro em Brasília é delicada, com seu julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político e econômico iniciando nesta terça-feira. O processo pode ser arrastado para o próximo ano com pedidos de vista.
Preocupação de Moraes e Estratégia Política
Em um dia de intensa articulação política, o ministro do STF Alexandre de Moraes reuniu-se com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). A pauta principal teria sido a crescente violência e a tensão política no país, em um momento que antecede possíveis desdobramentos para Jair Bolsonaro. A solicitação de Castro para o uso de blindados da Marinha em operações contra o crime organizado foi recebida com ceticismo no Planalto, sendo vista como uma medida que demandaria um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) presidencial.
Diante deste cenário, o PL e parte do Centrão articulam a formação de uma bancada focada em segurança pública no Congresso. O objetivo é confrontar o governo na CPI do Crime Organizado, na PEC da Segurança e no projeto de lei antifacção. A escalada da violência no Rio parece, assim, ter se tornado um mero trampolim para as ambições eleitorais.
Fonte: Estadão