O Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos está em vias de anunciar seu segundo corte consecutivo de juros. A decisão, esperada para esta semana, ocorre em um cenário de sinais de enfraquecimento no mercado de trabalho americano. No entanto, a continuidade do afrouxamento monetário após outubro deve enfrentar crescentes resistências de membros do comitê preocupados com a inflação. Atualmente, a ala mais flexível (dovish) prevalece, mas a cautela sobre avançar demais no ciclo de cortes ganha força.
Inflação desacelera, mas incertezas persistem nos EUA
Dados recentes indicaram que a inflação subjacente nos EUA registrou em setembro o ritmo mais lento dos últimos três meses. Esse resultado reforça a expectativa de um novo corte de juros na próxima reunião do Fed, mas não sustenta a tese de uma sequência prolongada de reduções. A economista do Wells Fargo, Nicole Cervi, pontua que a situação mantém o Fed inclinado a cortar em outubro, mas o panorama geral da inflação permanece pouco alterado.
O Fed manteve as taxas de juros estáveis ao longo do ano, enquanto analisava o impacto das tarifas comerciais e mudanças políticas na economia. Com a acentuada desaceleração nas contratações durante o verão, a autoridade monetária optou por reduzir a taxa básica em 0,25 ponto percentual em setembro, com projeções de mais dois cortes até o final do ano. Desde então, novos dados do Mercado de trabalho ofereceram alívio limitado. O presidente Jerome Powell reconheceu um “enfraquecimento considerável” no mercado de trabalho e destacou “riscos significativos de baixa”.
Mercado aposta em cortes de juros até março
Investidores já precificam três cortes de 0,25 ponto percentual, com expectativas concentradas em outubro, dezembro e março. Os títulos do Tesouro americano, impulsionados pela expectativa de juros menores, registram o melhor desempenho desde 2020. O rendimento do Treasury de 10 anos caiu abaixo de 4%, refletindo o otimismo com novas reduções. Vishal Khanduja, da Morgan Stanley Investment Management, sugere que será difícil desviar dos 50 pontos-base já precificados para as próximas duas reuniões.
Apesar do otimismo do mercado, dirigentes regionais do Fed tendem a defender cautela. Projeções de setembro indicaram que nove dos 19 formuladores de política monetária viam espaço para, no máximo, um corte adicional, e sete não apoiavam novos ajustes. A divergência de opiniões dentro do Federal Reserve aponta para um debate interno acirrado sobre o futuro da política monetária.
Temores com inflação de serviços e credibilidade do Fed
Alguns membros do Fed reconhecem a perda de fôlego nas contratações, mas apontam que a oferta de mão de obra também diminuiu, em parte devido à queda na imigração. Isso sugere que menos vagas são necessárias para manter o desemprego estável. Preocupações com a persistência da inflação voltaram a ganhar força. A presidente do Fed de Cleveland, Beth Hammack, alertou sobre a alta nos preços de serviços, que superam 3% anualmente há quatro meses consecutivos. Outros dirigentes relembram que a inflação está acima da meta de 2% há mais de quatro anos, e o retorno ao alvo pode se estender até 2028, cenário que ameaça a credibilidade do Fed. A presidente do Fed da Filadélfia, Anna Paulson, enfatizou a importância de concluir o trabalho de trazer a inflação de volta a 2%, ressaltando que a estabilidade das expectativas de longo prazo é um testemunho da credibilidade da política monetária.
Shutdown do governo e falta de dados aumentam incertezas
O atual shutdown do governo americano restringe a divulgação de indicadores oficiais, o que dificulta as avaliações do Fed. Veronica Clark, economista do Citigroup, prevê que a autoridade siga o plano de setembro: dois cortes adicionais neste ano e apenas um em 2026. Ela observa que, apesar da divisão, nada muda substancialmente a percepção dos dirigentes, e a principal mensagem será a Falta de clareza sobre os rumos da economia. O diretor Christopher Waller também expressou dúvidas, indicando que o contraste entre o crescimento robusto da economia e a fraqueza do emprego exige prudência, afirmando que “algo precisa ceder” — seja o crescimento desacelerando para se alinhar ao mercado de trabalho, ou o emprego reagindo para sustentar a economia.
Fonte: InfoMoney