O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nos dias 4 e 5 de novembro para definir a nova taxa de juros. O consenso do Mercado é que a Selic permanecerá em 15%, com o comitê atento à convergência da inflação para a meta. A principal expectativa reside na possibilidade de o comunicado adotar um tom mais duro (hawkish) ou mais suave (dovish), indicando o futuro início do ciclo de corte de juros.
Economistas ouvidos pelo InfoMoney apontam que, apesar de alguns indicadores mostrarem desaceleração da atividade econômica, fatores relevantes devem levar o Copom a manter os juros elevados por um período mais extenso.
Cenário Macroeconômico: Pressões e Alívios
Desde a última reunião do Copom, os indicadores de atividade econômica têm apresentado sinais de desaceleração, com perda de tração no crédito e recuo da inflação, refletindo o impacto da política de juros na economia.
No entanto, o mercado de trabalho demonstra resiliência. A taxa de desemprego atingiu mínimas históricas pela terceira vez, e o país continua gerando novas vagas, embora o ritmo tenha sido inferior ao esperado no último mês.
No âmbito fiscal, a estabilização da dívida pública continua sendo um desafio, segundo Arnaldo Lima, líder de RI da Polo Capital. Contudo, ele observa indícios de menor impulso fiscal, como a queda de 0,6% no consumo do Governo em relação ao avanço de 0,4% do PIB na comparação trimestral com ajuste sazonal.
Lima destaca que a expansão das faixas de isenção tributária pode estimular a demanda agregada, mas a resposta da oferta ainda é incerta.
Inflação como Divisor de Águas
Ainda persistem incertezas fiscais e externas. A inflação será o principal fator determinante entre um comunicado dovish ou hawkish, na avaliação de Luis Otávio Leal, sócio e economista-chefe da G5 Partners.
O relatório Focus tem indicado um recuo nas projeções de inflação. A expectativa para 2025 passou de 4,8% para 4,55% em quatro semanas; para 2026, de 4,28% para 4,20%; e para 2027, de 3,9% para 3,8%. Contudo, esses números podem não ser suficientes para o Copom.
“Teremos que ver se ele vai focar nos resultados correntes melhores do que o esperado e na queda das expectativas de inflação, ou no fato de que estes movimentos ainda são incipientes por serem incompatíveis com a meta de inflação”, avalia Leal.
Foco no Comunicado do Copom
A principal incógnita para esta reunião do Copom é se o comitê manterá a sinalização de que pode retomar o ciclo de alta de juros, se necessário, ou se removerá essa cláusula do comunicado.
“Entendemos que esse trecho pode ser retirado, deixando as portas abertas para o início do ciclo de corte de juros no início do próximo ano”, afirma Júlio barros, economista do Daycoval. Caso a sinalização seja mantida, o mercado interpretará que o ciclo de cortes pode iniciar “mais para a frente” do que o esperado, atualmente entre janeiro e março do próximo ano.
Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, ressalta que a estabilização do mercado de trabalho está próxima da mínima histórica da taxa de desemprego, e a inflação corrente ainda se distancia do objetivo da política monetária.
“A melhora de expectativas, mesmo que expressiva, ainda deixa as projeções de mercado consistentemente acima da meta – de forma que o Copom reconhecer esse movimento de melhora, nesse momento, pode ser contraproducente”, avalia. Para ele, o Copom não mudará a sinalização de manter os juros altos por um período prolongado devido à desancoragem das expectativas.
Posição Hawkish versus Dovish do Copom
Nessa mesma linha, Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, destaca que o mercado de trabalho e o consumo podem influenciar a análise do Comitê, que deve manter uma postura cautelosa.
“O mercado de trabalho resiliente mantém o consumo em níveis relativamente elevados, e continua sustentando parte da pressão sobre os preços de serviços”, afirma. “Esse e outros componentes subjacentes de inflação, como os núcleos, permanecem acima da meta. Além disso, mesmo com a melhora recente, as projeções de inflação do mercado seguem distantes do centro da meta, o que reforça a necessidade de manutenção da postura cautelosa por mais tempo”, avalia.
No cenário Internacional, Arnaldo Lima, líder de RI da Polo Capital, avalia que, embora a guerra tarifária não tenha gerado impactos tão negativos quanto temido, o cenário global ainda exige cautela da Autoridade Monetária. Adicionalmente, a resiliência do mercado de trabalho reflete um desequilíbrio entre oferta e demanda que mantém a inflação de serviços pressionada, demandando, portanto, “a manutenção de uma política monetária contracionista por um período prolongado”, afirma.
Luis Felipe Vital, chefe de Estratégia Macro e Dívida Pública da Warren, espera que o comitê reitere que os riscos seguem mais elevados do que o usual, sem alterações relevantes no balanço de riscos apresentado anteriormente.
“Não se espera nenhuma mudança relevante na comunicação do Banco Central. O elemento hawkish que o Banco Central pode trazer diz respeito à perseguição do centro da meta de 3,0%. Embora o tema não seja novo e já tenha aparecido em documentos anteriores, o momento atual seria propício para o reforço dessa mensagem”, diz.
Perspectivas para o Corte da Selic
Além desta reunião de novembro, o Copom terá uma última reunião no ano, marcada para 9 e 10 de dezembro. Em 2025, as reuniões do primeiro trimestre ocorrerão em 27 e 28 de janeiro e em 17 e 18 de março.
Os economistas são unânimes em afirmar que o Copom não iniciará o ciclo de corte de juros neste ano, mas divergem quanto à projeção para o início do corte no próximo ano.
G5 Partners e Polo Capital projetam o corte para janeiro; Suno e C6 Bank têm projeção para março de 2025.
A XP projeta o corte da Selic para março de 2025. “Projetamos que a taxa Selic atingirá 12,00% ao final de um ciclo de seis cortes consecutivos de 0,50 p.p., com início em março de 2025”, escreveram em seu relatório os analistas. Com isso, a taxa básica se estabilizaria em torno de 7,5% em termos reais, “ou seja, acima do que consideramos como nível neutro, refletindo os desafios fiscais previstos para o próximo mandato presidencial.”
A Reach Capital revisou sua projeção de início do ciclo de cortes para abril de 2025.
Independentemente do início do corte, a projeção é que a Selic termine em 12,25% em 2025, de acordo com o relatório Focus. A estimativa para 2026 permaneceu em 10,50%. Para 2027, a estimativa se manteve em 10% por 45 semanas.
Fonte: InfoMoney