Copom Mantém Selic em 15%: Cautela Domina Decisão do BC

Copom mantém Selic em 15% ao ano em decisão cautelosa, contrariando expectativas de mercado por cortes. Entenda o impacto.
Copom mantém Selic em 15% — foto ilustrativa Copom mantém Selic em 15% — foto ilustrativa
Prédio do Banco Central em Brasília 11/06/2024 REUTERS/Adriano Machado

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano em sua última reunião, reforçando um tom de cautela e contrariando as expectativas de flexibilização antecipada por parte do Mercado.

Esta é a terceira reunião consecutiva sem alterações, desde que a taxa atingiu o patamar de 15% em junho. A expectativa de alguns analistas era de que o BC pudesse ajustar a linguagem utilizada nos comunicados anteriores, sinalizando maior flexibilidade para cortes futuros.

No entanto, o comunicado divulgado apresentou poucas mudanças. Leonardo Costa, economista do ASA, avaliou o documento como neutro a hawkish: “Houve pouca mudança, com uma pequena redução na projeção de inflação em seu horizonte relevante. O tom segue mais duro, contrariando a expectativa de parte do mercado”, afirmou.

Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, interpretou o comunicado como “ligeiramente hawkish pelo mercado, mas neutro em relação à visão majoritária dos economistas”. Ela ponderou que “a Barra para cortes em janeiro ficou um pouco mais alta, mas ainda há tempo até lá”.

Tom Cauteloso na Política Monetária

O Comitê reiterou a necessidade de manter os juros em patamar elevado por um período prolongado. A declaração “Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado” foi mantida.

O mercado financeiro esperava uma sinalização mais amena. Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, comentou: “Há um cenário de desinflação, melhora gradual da expectativa de inflação e um juro real ainda entre os mais altos do mundo – o que permitiria uma postura mais branda sem comprometer a credibilidade da política monetária”.

Marcelo Bolzan, planejador financeiro da The Hill Capital, destacou que, embora a decisão tenha sido unânime, o tom surpreendeu. “Ele seguiu a mesma linha do último comunicado, só que como nós tínhamos uma expectativa que ele já sinalizaria uma possível mudança de rota no futuro, ele não fez isso. Então, no meu entendimento, ele manteve o tom duro da ata quando todo mundo já estava imaginando uma sinalização um pouco mais tranquila”, avaliou.

Camilo Cavalcanti, gestor de portfólio da Oby Capital, acrescentou que o comunicado mantém a avaliação de cenário externo incerto, reforça a trajetória de moderação no crescimento econômico e a dinâmica do mercado de trabalho.

Inflação em Trajetória de Queda

Uma das novidades no comunicado foi o reconhecimento da desaceleração da inflação. “O Copom reconhece que a inflação está arrefecendo, o que é muito positivo, mas que ainda assim se mantém acima da meta. Foi um dos pequenos ajustes que foram feitos da última comunicação para essa”, analisou Bolzan.

A Warren destacou que o horizonte relevante de política monetária foi deslocado do 1º para o 2º trimestre de 2027, e a projeção de inflação recuou de 3,4% para 3,3%, em linha com as expectativas do mercado. A projeção para os preços livres também diminuiu. Os economistas da instituição afirmaram que o Comitê reforçou a redação de que a manutenção da taxa no nível atual é suficiente para assegurar a convergência à meta, um ajuste compatível com o sinal de que este é o nível terminal do ciclo de aperto monetário.

Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, observou que a projeção de inflação do BC para o prazo relevante da política monetária já está em 3,3%, próxima ao centro da meta. Com o câmbio favorável e a desaceleração da atividade, a queda da inflação deve continuar consistente, embora lenta, tanto em bens quanto em serviços.

Volnei Eyng, CEO da Multiplike, afirmou que a decisão reforça o compromisso com o controle da inflação, que segue próxima do teto da meta, e reflete preocupações com o cenário fiscal e a resiliência do mercado de trabalho. “Nesse momento, adiantar a redução da Selic, embora a inflação esteja se aproximando do teto da meta, levaria a uma redução da curva de juros curta, mas no médio e longo prazo essa curva de juros aumentaria”, analisou. Para ele, manter o “remédio forte” agora ajuda a reduzir o juro médio futuro.

Gráfico do Copom discutindo a Selic em 15% com projeção de inflação.
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a Selic em 15% ao ano.

Menor Volatilidade e Planejamento

Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, considera que o tom de cautela do comunicado reforça a avaliação de uma política monetária estável. “A manutenção dos juros reduz a volatilidade, permite planejamento e confirma que o Brasil atravessa o ciclo de aperto monetário com credibilidade intacta. A confiança institucional é o principal resultado desse equilíbrio”, declarou.

Projeções para o Ciclo de Cortes

Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, mantém a projeção de início do ciclo de cortes da Selic em março, com taxa terminal de 11,5%, mas com viés altista.

A GCB Investimentos, por sua vez, projeta o início do ciclo de cortes da Selic para janeiro de 2026, com a taxa básica podendo encerrar o ano em 12,0% a.a. Essa projeção é condicionada à reancoragem das expectativas e ao fortalecimento dos fundamentos fiscais e macroeconômicos, segundo Lucas Constantino, estrategista-chefe da GCB Investimentos.

Impacto na Indústria e no Setor Produtivo

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) manifestou preocupação com a manutenção da taxa Selic em 15% ao ano, afirmando que isso freia a produção e enfraquece a indústria. “Com a Selic elevada por mais tempo, as empresas terão mais dificuldade para financiar capital de giro e investir em novos projetos”, alertou Flávio Roscoe, presidente da entidade.

Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), classificou a manutenção da Selic como um “duro golpe” na economia e na competitividade industrial. Ele apontou que, com a expectativa de inflação nos próximos 12 meses em 4,06%, o juro real anual supera 10%, inibindo o investimento produtivo, afetando o consumo das famílias e penalizando as camadas de menor renda.

Renato Correia, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), expressou apreensão com a decisão. “O prolongamento [da Selic alta] ameaça frear investimentos na construção, comprometendo novos lançamentos imobiliários e a geração de empregos”, avaliou. “Uma Selic de 15% por um ciclo longo traz desafios, porque o setor depende de financiamento de longo prazo, e esse custo torna muitos projetos inviáveis”, explicou.

Fonte: InfoMoney

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