A militante de esquerda Clara Charf, viúva do icônico guerrilheiro Carlos Marighella, faleceu na madrugada desta segunda-feira, 3 de junho, em São Paulo, aos 100 anos. Clara estava internada e entubada há alguns dias, conforme confirmado por Vera Vieira, diretora-executiva da Associação Mulheres Pela Paz, organização fundada e presidida pela ativista.
Vera Vieira lamentou a perda, descrevendo o falecimento como de causas naturais e ressaltando o imenso legado de Clara nas Lutas pelos direitos humanos e pela equidade de gênero.
Trajetória de luta e resistência
Aos 21 anos, Clara Charf filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), onde conheceu Carlos Marighella. Sua vida foi marcada pela dedicação às causas populares, ao movimento feminista e pela integração à Ação Libertadora Nacional (ALN). A ALN, organização de Luta armada, foi fundada por Marighella em 1967 como forma de oposição à ditadura militar, que se iniciou em 1964.
O jornalista Mário Magalhães, biógrafo de Marighella, descreveu Clara como uma das mulheres mais fascinantes, generosas e destemidas do Brasil, destacando sua coragem em confrontar o poder e sua dedicação em ajudar os necessitados. Ele previu que seu nome será eternizado em escolas, bibliotecas e ruas.
Exílio e retorno ao Brasil
Após a morte de Carlos Marighella, em 1969, executado por agentes da ditadura, Clara Charf exilou-se em Cuba. Lá, viveu na clandestinidade e atuou como tradutora. Seu retorno ao Brasil ocorreu em 1979, com a promulgação da Lei da Anistia. Em 1982, Clara concorreu a deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT), ao qual permaneceu filiada.
Homenagens e Legado
O PT lamentou profundamente a morte de uma de suas fundadoras, ressaltando que Clara, nascida em 17 de julho de 1925, completou 100 anos dedicando sua vida à liberdade, Justiça social, ao enfrentamento ao fascismo e à defesa intransigente dos direitos humanos. Sua história se entrelaça com a própria narrativa da resistência democrática brasileira.
A atuação de Clara no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e na presidência da Associação Mulheres Pela Paz, criada em 2003, foi amplamente destacada. A organização é uma referência crucial na luta contra a violência de gênero e na promoção do protagonismo feminino.
A ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais, também expressou suas condolências, enaltecendo a coragem de Clara em enfrentar a repressão, a ditadura e o exílio, e por manter viva a esperança na construção de um mundo mais justo.
Momento Simbólico
Curiosamente, Clara Charf faleceu na véspera da data em que seu companheiro, Carlos Marighella, foi assassinado, um marco trágico em 4 de novembro. Até o momento da publicação desta reportagem, a família não havia divulgado informações sobre os detalhes do velório e sepultamento.
Fonte: Estadão