Brasil: Cidades despreparadas para mudanças climáticas, alerta CEO da MMF

CEO da MMF alerta que cidades brasileiras não estão preparadas para mudanças climáticas. Especialista cobra políticas públicas e resiliência urbana.
mudanças climáticas Brasil — foto ilustrativa mudanças climáticas Brasil — foto ilustrativa

Eventos climáticos extremos, como as devastadoras chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul em 2024, são um reflexo direto das mudanças climáticas globais. Para Luciano Machado, CEO da MMF Projetos de Infraestrutura, o setor de engenharia precisa de uma profunda reformulação para tornar as cidades brasileiras mais resilientes. Embora a tecnologia e a expertise dos engenheiros estejam disponíveis, o principal obstáculo reside na ausência de políticas públicas eficazes e de uma visão transversal do problema.

Machado enfatiza que a frequência e a intensidade das chuvas que causam perdas de vida no Brasil não devem ser tratadas como “tragédias naturais”, mas sim como “tragédias humanas”. Ele argumenta que a dignidade e a segurança das populações afetadas são comprometidas pela falta de planejamento e infraestrutura adequada para lidar com esses eventos.

O Desafio da Resiliência Urbana no Brasil

Segundo o CEO da MMF, o Brasil ainda está em fase de preparação para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. “Infelizmente, não [estamos preparados]. Ainda estamos em um momento de preparação. Tem muita coisa para fazer ainda”, afirmou Machado em Entrevista.

Ele destaca a necessidade de uma mudança cultural em relação aos eventos extremos. “Nosso problema é a chuva. Temos de tratá-la com o tamanho que ela tem. Precisamos parar de chamar de tragédia natural: é tragédia humana. Se as pessoas não estivessem morando onde moram, se houvesse dignidade para que morassem em outro lugar, não haveria tragédia”, explicou. O executivo compara a situação com o Japão, país que, segundo ele, respeita seus riscos ambientais.

Tecnologia e Políticas Públicas: O Caminho para a Segurança

Machado assegura que o Brasil dispõe de tecnologia acessível e confiável para monitorar desastres naturais, como sensores de chuva e solo, e radares meteorológicos. O desafio, contudo, reside na implementação dessas ferramentas através de políticas públicas. “O problema com sirenes, por exemplo, é o descrédito quando tocam toda hora. Em dois anos de programa-piloto, tivemos três alertas internos e todos foram efetivos. O desafio é a política pública para implementação”, ressaltou.

Para destravar obras de infraestrutura, o CEO aponta a carência de “política pública e aplicação da lei”. Ele relembra que a criação de leis específicas para barragens solucionou problemas rapidamente e sugere que o mesmo rigor deve ser aplicado às comunidades vulneráveis.

Sustentabilidade e ESG: Um Pilar da MMF

A MMF Projetos de Infraestrutura, fundada em 2014, já incorporava princípios ESG antes mesmo da popularização do termo. A empresa atua em consultoria, projetos, recuperação de áreas degradadas e, principalmente, em áreas de vulnerabilidade, como encostas e taludes. “sustentabilidade é o nosso dia a dia”, garantiu Machado.

Os projetos de engenharia da MMF já incorporam os novos padrões climáticos, considerando eventos extremos em seus cálculos. “Quando se pensa em chuva de retorno de 10 anos, por exemplo, não dá mais para contar que será de 10 anos mesmo. Precisamos trabalhar com eventos extremos”, explicou.

Projetos e Expectativas Internacionais

A empresa acaba de firmar um contrato de cinco anos com a Unops (Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos) para mapear riscos de desastres no Brasil e na América Latina, com foco em centros urbanos. Projetos de recuperação de áreas degradadas, como em Atibaia (SP) e Vila Velha (ES), demonstram o compromisso da MMF com a segurança e a qualidade de vida das comunidades.

Olhando para o futuro, a MMF busca expandir sua atuação internacional, especialmente no continente africano, onde já possui projetos em Cabo Verde, focados em resiliência climática. “Cabo Verde é um lugar que chove dez dias durante o ano, mas esses dez dias causam muito estrago. É chuva torrencial. Eles têm dificuldade de água doce e não conseguem armazenar a água quando chove”, exemplificou Machado.

COP-30 e o Futuro Climático

Machado expressou preocupação com os países em desenvolvimento, os mais afetados pelas mudanças climáticas e os menos responsáveis por elas. Sua expectativa para a COP-30, em Belém, é que acordos efetivos sejam firmados para mitigar os problemas enfrentados por essas nações, especialmente as ilhas. “Minha maior expectativa é que, nessa COP do Clima, consigamos ter acordos efetivos que atendam, sobretudo, aos países em desenvolvimento. Essa é a minha grande esperança”, concluiu.

Fonte: Estadão

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