Uma recente viagem à China revelou um país que está anos luz à frente do Brasil em gestão de resíduos sólidos e infraestrutura. As Usinas de Recuperação Energética (UREs) chinesas transformam resíduos em energia e materiais recicláveis, com instalações que lembram mais centros educativos e recreativos: ambientes limpos, decorados, sem odores ou desconforto, cercados por jardins e água. Ao contrário, a maior cidade brasileira, São Paulo, gera diariamente quinze mil toneladas de resíduos, com uma taxa de reciclagem que não ultrapassa os dez por cento.
O Paradoxo do Descarte e a Visão Global
A Encíclica “Laudato Si”, do Papa Francisco, já alertava sobre a ilusão do “jogar fora”, lembrando que tudo descartamos sobre um planeta maltratado. A China exemplifica a superação desse problema, mesmo com cidades de mais de vinte milhões de habitantes. Em contraste, o Brasil enfrenta desafios significativos na gestão do que consumimos, desperdiçamos e descartamos.
A infraestrutura chinesa impressiona: cidades sem fiação elétrica aérea, tudo é subterrâneo, com amplas áreas verdes e arborizadas. O trânsito, embora intenso, é dominado por veículos elétricos, garantindo silêncio e ordem. A ausência de sujeira nas ruas, um contraste gritante com a realidade brasileira, reflete uma Disciplina coletiva notável.
Tecnologia e Eficiência em Infraestrutura
O transporte na China também demonstra um avanço considerável. O trem-bala atinge velocidades superiores a 390 km/hora, com modelos já desenvolvidos para 800 km/hora. O turismo interno é robusto, permitindo aos chineses conhecerem maravilhas como a Grande Muralha. A valorização da cultura e da disciplina, herdada da filosofia de Confúcio, como respeito aos anciãos e o trabalho como forma de ascensão social, molda a sociedade.
Obras estruturais impressionantes, como uma ponte de vinte e quatro quilômetros construída em dezoito meses, evidenciam a capacidade tecnológica e a eficiência chinesa. Projetos arquitetônicos modernos, como os do arquiteto Kongjian Yu, complementam a paisagem urbana e a funcionalidade das cidades.
Lições de Educação e Cidadania
A educação chinesa ensina às Crianças a responsabilidade pela limpeza de suas escolas, incluindo a manutenção de banheiros e pátios, e o cuidado com o patrimônio público. Essa abordagem forma cidadãos conscientes e zelosos pela coisa comum. A veneração aos anciãos, vistos como detentores de sapiência, e a valorização do patrimônio intangível – valores, moral, cultura autêntica – são pilares que moldam o caráter.
Diante da capacidade da China em resolver problemas que parecem insolúveis para o Brasil, como a gestão de resíduos e a infraestrutura urbana, levanta-se a questão: por que um país com quase um bilhão e quinhentos milhões de habitantes alcança tais feitos, enquanto o Brasil, com duzentos e treze milhões, enfrenta tantas dificuldades? A resposta aponta para a Falta de vontade política, foco, educação de qualidade e seriedade no trato dos interesses comuns. Há um vasto aprendizado a ser extraído da surpreendente China, incentivando uma aproximação para absorver suas práticas bem-sucedidas.
Fonte: Estadão