Certidões de Óbito Corrigidas: Justiça Reconhece Mortes na Ditadura Militar

Mais de 100 certidões de óbito corrigidas foram entregues a famílias de vítimas da ditadura militar, reconhecendo mortes violentas causadas pelo Estado.
certidões de óbito corrigidas — foto ilustrativa certidões de óbito corrigidas — foto ilustrativa

Mais de cem famílias de vítimas da ditadura militar puderam receber nesta quarta-feira (8), na Faculdade de Direito da USP, em São Paulo, certidões de óbito corrigidas que atestam violência e mortes cometidas pelo Estado brasileiro após o golpe de 1964.

A cerimônia contou com a presença de familiares de vítimas cujas certidões já haviam sido corrigidas, como os parentes de Rubens Paiva, deputado sequestrado e morto por militares, e do jornalista Vladimir Herzog.

O Legado de Rubens Paiva e Vladimir Herzog

Em janeiro, a certidão de Rubens Paiva foi corrigida para constar morte violenta e causada em contexto de perseguição sistemática. Ele havia desaparecido em 1971 e morreu sob tortura.

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Vladimir Herzog foi assassinado em 1975 nas dependências do DOI-Codi, mas a versão oficial da época atribuiu sua morte a suicídio. A farsa foi desmentida por depoimentos, e a União foi condenada em 1978. Em 2013, o atestado de óbito de Herzog já havia sido alterado para constar lesões e maus-tratos.

Segundo o Ministério dos direitos humanos e da Cidadania, a nova retificação da certidão de Herzog será menos genérica. Enquanto a de 2013 se baseou na Lei nº 9.140/95, que reconhece mortos e desaparecidos políticos sob responsabilidade do Estado, a atual traz uma redação mais clara: “morte não natural, violenta, causada pelo Estado no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política no regime ditatorial instaurado em 1964”.

Reparação da Verdade e Responsabilidade Estatal

A certidão de Paiva, retificada anteriormente, agora se adequará ao padrão definido para todas as vítimas, em linha com determinações do CNJ e recomendações da CNV (Comissão Nacional da Verdade). Este novo modelo visa corrigir definitivamente os registros e reconhecer a responsabilidade do Estado pelas mortes durante a ditadura militar.

A solenidade, realizada no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, é a segunda promovida pela CEMDP (Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos). O evento reuniu familiares e convidados que ressaltaram a importância da reparação da verdade e fizeram paralelos entre o golpe de 1964 e tentativas recentes de desestabilização democrática.

Família recebe certidão de óbito corrigida na USP
Cerimônia de entrega de certidões de óbito corrigidas na USP.

A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, descreveu o momento como uma “reescrita da nossa história a partir da memória”, enfatizando a necessidade de lembrar o golpe de 1964 para evitar sua repetição e criticando o autoritarismo.

Vera Paiva, filha de Rubens Paiva, destacou a importância de pedidos oficiais de desculpas do Estado e da continuação das ações de preservação da memória. “Para que nunca mais aconteça, precisamos que não se esqueça”, afirmou.

Detalhe da certidão de óbito corrigida de Rubens Paiva
Detalhe da certidão de óbito corrigida de Rubens Paiva.

Preservando a Memória e a Verdade Histórica

Na primeira solenidade, em agosto, 63 certidões retificadas foram disponibilizadas, com 21 entregues. O objetivo é preservar a memória das vítimas e a verdade sobre o período da ditadura militar (1964-1985). A Comissão Nacional da Verdade aponta 434 vítimas do Estado entre 1946 e 1988, embora historiadores estimem um número significativamente maior, incluindo mais de 8.000 mortes de indígenas.

A lista completa de vítimas cujas certidões foram entregues inclui nomes como Alex de Paula Xavier Pereira, Alexandre Vannucchi Leme, Carlos Marighella, e Vladimir Herzog, entre outros.

Fachada da Faculdade de Direito da USP
Local da cerimônia: Faculdade de Direito da USP.
Familiares participam da entrega de certidões de óbito
Familiares recebem certidões de óbito em cerimônia na USP.

Fonte: Folha de S.Paulo

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