A política brasileira está em ebulição com a pergunta que ecoa nos corredores do poder: quem do Centrão deixará o Governo Lula? Essa questão se tornou um dos principais focos de atenção, superando até mesmo a antiga curiosidade sobre quem matou Odete Roitman, um marco na teledramaturgia nacional.
O Ultimato dos Partidos e a Resistência no Governo
Tanto o União Brasil quanto o PP estabeleceram um prazo limite, no final de setembro, para que seus filiados deixassem cargos no primeiro escalão. O União Brasil, apelidado de “Desunião Brasil”, chegou a impor um prazo de 24 horas, sob ameaça de Expulsão, para o desembarque de seus membros.
No entanto, a realidade tem se mostrado menos drástica. Ministros e diretores de estatais não têm demonstrado pressa em deixar suas posições. Um exemplo é o titular do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), que chegou a pedir Demissão ao presidente Lula, mas recuou posteriormente. André Fufuca (PP), ministro do Esporte, também enfrenta pressão semelhante.
Entre os indicados por esses partidos, destaca-se a Caixa Econômica Federal, presidida por Carlos Vieira, afilhado político do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), uma figura central no Centrão.

O Jogo de Cena e a Busca por Mandatos
Diante da pressão, dirigentes da federação União Progressista (União Brasil e PP) ajustaram o discurso. A nova determinação foca em que apenas os detentores de mandato parlamentar deixem suas cadeiras. Essa manobra excluiu de imediato ministros como Frederico de Siqueira Filho (Comunicações) e Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional), que têm o apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Outros indicados por Alcolumbre e por políticos influentes em órgãos como Codevasf, Correios e Telebras também se salvam por ora. Essa dinâmica revela o Centrão como um bloco multifacetado, onde diferentes interesses coexistem, e que, independentemente do governo, busca maximizar sua participação e influência no poder.
A falta de unidade no Centrão é visível, com críticas veladas à decisão de desocupar cargos vindas de partidos como o PSD de Gilberto Kassab e o Republicanos de Hugo Motta, presidente da Câmara.
Disputas Eleitorais e o Futuro do Centrão
O racha interno do Centrão se intensifica com a proximidade das eleições de 2026. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é o nome preferido de parte do Centrão para enfrentar Lula, buscando o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No entanto, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), pré-candidato pela federação, luta para impor seu nome.
A disputa se acirra com trocas de farpas entre Caiado e o presidente do PP, Ciro Nogueira, que apoia a candidatura de Tarcísio. A tensão gerada por essas divergências pode impactar a força da federação, que representa uma das maiores bancadas no Congresso e dispõe de vultosos recursos eleitorais e partidários.
Ciro Nogueira demonstra irritação com as questões que envolvem os ataques de Caiado e a permanência de André Fufuca no governo, evidenciando o clima de indefinição.
Próximos Capítulos: A Lei Eleitoral e a ‘Novela’ Política
Em teoria, a cúpula do União Brasil pode decidir qualquer cenário. Na prática, porém, o Centrão não deve sair integralmente do governo antes do prazo estabelecido pela Lei Eleitoral. Apenas em março ou abril de 2026, quando os candidatos precisarem se desincompatibilizar, é que as mudanças mais significativas ocorrerão.
Tanto Sabino quanto Fufuca almejam vagas no Senado e buscam o apoio de Lula, mesmo diante de ameaças de intervenção em diretórios regionais. A situação atual é descrita como uma novela, repleta de intrigas e indefinições, mas que promete desvendar seus desfechos nos próximos capítulos da política brasileira.
Fonte: Estadão