Cinquenta anos após o brutal assassinato do jornalista Vladimir Herzog, o Estado brasileiro, representado pelo presidente em exercício Geraldo Alckmin, pediu perdão pela violência perpetrada durante a ditadura militar. A cerimônia inter-religiosa, realizada na Catedral da Sé, em São Paulo, marcou um momento significativo de reconhecimento e clamor por justiça.
Pedido de Perdão e Memória Institucional
Pela primeira vez, um presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, esteve presente na celebração. A ministra do Superior Tribunal Militar (STM), Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha, proferiu um pedido de perdão em nome do judiciário militar. “Perdão a todos que tombaram e sofreram lutando pela liberdade no Brasil. Perdão pelos erros e omissões judiciais cometidas durante a ditadura. Eu peço perdão a Vladimir Herzog e sua família”, declarou, sendo aplaudida e interrompida por gritos de “sem anistia”.
Alckmin, por sua vez, reafirmou o compromisso do governo com a Defesa da verdade, da justiça e da democracia. “A memória de Vladimir Herzog segue viva e evoca em cada um de nós a promessa de defender os valores sagrados da vida, da liberdade e dos direitos humanos”, disse o presidente em exercício. Ele ressaltou a importância de não esquecer os fatos e de fortalecer as instituições democráticas.
Ato e Protesto Contra a Anistia
A cerimônia, promovida pelo Instituto Vladimir Herzog e pela Comissão Arns, reuniu autoridades religiosas e civis. O cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, o rabino Uri Alam e a pastora Anita Wright conduziram a celebração, relembrando o ato ecumênico original de 50 anos atrás. Mensagens de figuras como o rabino Henri Sobel e o pastor Jaime Wright, que participaram da cerimônia original, foram evocadas.
Em meio às homenagens, um vídeo exibiu os nomes das vítimas da ditadura militar. A execução de “O Bêbado e a Equilibrista” emocionou os presentes. A atriz Fernanda Montenegro leu uma carta de Zora Herzog, mãe de Vlado, dirigida ao juiz federal aposentado Márcio José de Moraes, que em 1978 condenou a União pela morte do jornalista.
O evento, que contou com forte esquema de policiamento em contraste com a vigilância da época, também se transformou em um protesto explícito contra a anistia a crimes cometidos durante o regime militar. O ex-ministro da José Carlos Dias, da Comissão Arns, alertou: “Hoje vivemos sob a ameaça da anistia”, o que gerou novos gritos de “sem anistia” pela multidão.
O Legado de Herzog e a Luta pela Democracia
Ivo Herzog, filho do jornalista, agradeceu a presença de Alckmin, enfatizando o simbolismo do ato. Ele concluiu com um chamado à paz, à Justiça e à democracia. A cerimônia, que durou mais de três horas, reforçou a importância da memória para a construção de um futuro onde a violência e a intolerância não tenham espaço. A presença de autoridades governamentais e judiciárias em um evento dedicado à memória das vítimas da ditadura aponta para um esforço de reconciliação histórica e de reafirmação dos valores democráticos no Brasil.
Fonte: Estadão