Contrariando declarações recentes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o vice-chairman do Nubank, Roberto Campos Neto, afirmou que as fintechs brasileiras pagam efetivamente mais impostos do que os grandes bancos. A declaração foi feita durante uma conversa em vídeo nesta quinta-feira, 16.
Campos Neto, que também é ex-presidente do Banco Central, rebateu a percepção de que empresas de tecnologia financeira (fintechs) pagam menos tributos. “Não é verdade que as fintechs pagam menos impostos. Quando a gente pega o que de fato foi pago para o Governo, que é a taxa efetiva de impostos, as fintechs pagaram mais do que os bancos grandes”, declarou.
A Visão do Ministério da Fazenda
A fala de Campos Neto surge após o ministro Fernando Haddad expressar, em audiência pública no Senado, seu desconforto com a carga tributária das fintechs. Haddad mencionou não compreender “como uma fintech maior que um banco pode pagar menos imposto” e indicou a possibilidade de revisar a chamada “taxação BBB” (bancos, bets e bilionários) antes de avançar com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026.
Competição Justa e Inclusão Financeira
Para Campos Neto, as fintechs demonstram que é viável promover a bancarização com lucratividade, buscando um ambiente de negócios equitativo. “As fintechs não estão querendo pagar menos. Estão querendo pagar igual. Nenhuma fintech quer um tratamento privilegiado, quer um tratamento justo, com capacidade de competir”, enfatizou.
O executivo destacou o papel crucial das fintechs na inovação do sistema financeiro brasileiro e, especialmente, na expansão da inclusão financeira. O nível de bancarização no Brasil avançou de cerca de 60% no início da década para 82%, um salto significativo em comparação com outros países da América Latina, como o México, que se encontra em torno de 50%.
Expansão Internacional do Nubank
Em relação à estratégia de expansão do Nubank para os Estados Unidos, Campos Neto confirmou que a empresa solicitou licença aos reguladores americanos. Ele acredita que o modelo de negócios da fintech é exportável, como já evidenciado em operações no México e na Colômbia. Conquistar uma fatia mesmo que pequena do vasto mercado americano, segundo ele, já representaria um ganho considerável.
“Acho que tem um problema de eficiência bancária nos Estados Unidos. Acho que o Nubank tem todos os ingredientes para conquistar uma parte relevante no mercado, obviamente começando com a população latina”, projetou Campos Neto. Ele observou que o mercado americano ainda utiliza métodos menos eficientes, como talões de cheque e o uso de papel em agências bancárias, diferentemente do Brasil.
Campos Neto também mencionou que o processo de obtenção de licença bancária nos EUA é mais complexo e demorado do que no Brasil, envolvendo múltiplos reguladores, incluindo o Federal Reserve (Fed), em contraste com a aprovação solitária do Banco Central brasileiro.
Fonte: Estadão