Brasil se consolida como 5º maior mercado de apostas do mundo

Descubra como o Brasil se tornou o 5º maior mercado de apostas do mundo, impulsionado por tecnologia, marketing e a paixão pelo futebol.
Gráfico ilustrando o crescimento do mercado de apostas no Brasil, consolidando o país como 5º maior do mundo. Gráfico ilustrando o crescimento do mercado de apostas no Brasil, consolidando o país como 5º maior do mundo.

O Brasil se firmou como o quinto maior mercado global para empresas de apostas online, com uma projeção de faturamento de US$ 4,139 bilhões (equivalente a R$ 22 bilhões) em 2025. Os dados, obtidos pela BBC News Brasil com a consultoria Regulus Partners, indicam que o país supera outros mercados importantes, ficando atrás apenas de Estados Unidos, Reino Unido, Itália e Rússia. Essa é a primeira vez que o Brasil figura nessa lista da consultoria, impulsionado pela recente regulamentação do setor.

Relatórios financeiros de companhias abertas e informações sobre o volume movimentado confirmam a expansão. A Secretaria de Prêmios e Apostas divulgou que as 78 empresas autorizadas no país já faturaram R$ 17,4 bilhões no primeiro semestre de 2025. Especialistas apontam um crescimento agressivo na última década, passando de uma estimativa de US$ 300 milhões em 2014.

Gráfico ilustrando o crescimento do mercado de apostas no Brasil.
Representação visual do crescimento do mercado de apostas.

Crescimento Acelerado e Fatores Determinantes

Paul Leyland, especialista em modelos econômicos de jogos de azar na Regulus Partners, destaca o impulso significativo gerado pelos lockdowns da pandemia de covid-19, que aceleraram a adoção digital. No entanto, outros fatores também foram cruciais para posicionar o Brasil entre os líderes do setor.

A combinação da proibição histórica dos jogos de azar no país, a receptividade do público brasileiro a novas tecnologias e ao consumo digital, o longo período entre a legalização e a regulamentação das apostas online, a intensa estratégia de marketing das empresas e a popularização do Pix contribuíram para esse cenário.

Da Lotérica à Conveniência Digital

As apostas online foram legalizadas no Brasil em 2018, mas a regulamentação efetiva só ocorreu em 2024. Durante os sete anos de operação sem regras claras, as empresas de apostas implementaram estratégias agressivas para atrair apostadores, transformando o país em uma espécie de “laboratório da economia comportamental”.

O economista Victo Silva, pesquisador no Centro de Desenvolvimento Internacional da Harvard Kennedy School, explica que a experiência de consumo em sites de apostas é mais recreativa do que a ida a uma lotérica. Plataformas digitais oferecem um cardápio extenso de apostas, mecanismos de incentivo, bônus e jogos de cassino, tudo de forma intuitiva e acessível. “No jargão econômico, os Custos de transação foram removidos”, afirma Silva, destacando a facilidade de apostar do sofá de casa.

O Pix, lançado em 2021, também desempenhou um papel fundamental, tornando depósitos e saques instantâneos e sem custo. Antonio Forjaz, diretor-geral na América Latina da Entain (dona da Sportingbet), compara a situação com países como Colômbia e México, onde transações offline ainda são comuns e representam um obstáculo. “Aqui é tudo pix, é tudo instantâneo”, ressalta Forjaz, indicando que o alto nível de bancarização e o ecossistema de pagamentos digitais consolidado tornam o Brasil um Mercado mais seguro e eficiente para operações de apostas.

Ilustração de um celular mostrando um aplicativo de apostas com o logo do Pix.
O Pix facilitou a instantaneidade nas transações de apostas.

O Brasil, o Futebol e a Publicidade

André Gelfi, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), complementa que o brasileiro é naturalmente mais aberto a novas tecnologias e ao consumo digital. Além disso, o longo histórico de proibição de jogos de azar no Brasil gerou uma demanda reprimida, que encontrou nas apostas online uma nova forma de entretenimento.

A publicidade ostensiva e disseminada das marcas de apostas tem sido outro fator de grande impacto. Presentes em camisas de times de futebol, camarotes de Carnaval, redes sociais e até em ônibus municipais, as bets ajudaram a “normalizar” a atividade. Forjaz, da Entain, explica que, em um mercado com pouca diferenciação de produto, a publicidade é essencial para a fixação na memória dos consumidores. O futebol, em particular, tem um papel duplo: como veículo de publicidade e como objeto das apostas.

O investimento das empresas de apostas no futebol brasileiro é expressivo. Dezoito dos 20 times da Série A do Brasileirão exibem marcas de bets em suas camisas, com os cinco maiores contratos superando meio bilhão de reais. Empresas como Betano (com o Flamengo), Superbet (São Paulo) e Esportes da Sorte (Corinthians) lideram esses investimentos, evidenciando a afinidade entre o esporte mais popular do país e o setor de apostas.

Debates sobre Regulamentação e Vício

A forte conexão entre apostas e futebol tem gerado debates. O economista Victo Silva expressa preocupação com a “betização da renda das famílias”, argumentando que a conexão com o esporte legitima a atividade de apostar, o que vai na contramão do necessário desincentivo ao vício em apostas. Dados do Banco Central indicaram que cinco milhões de pessoas beneficiárias do Bolsa Família haviam enviado dinheiro para empresas de apostas via Pix, levando o STF a determinar a restrição do uso de recursos de programas assistenciais para essas apostas.

Silva compara as apostas a produtos “tentadores”, como o cigarro, cujo consumo deveria ser desincentivado com políticas públicas, em vez de facilitado. Ele critica a atual regulamentação, considerando-a aquém de uma gestão responsável, enquanto as bets exploram vieses comportamentais e fraquezas dos usuários. A regulamentação atual proíbe publicidade voltada a crianças e adolescentes, mas um projeto de lei que propõe restrições mais severas, incluindo a proibição de anúncios com figuras públicas, ainda está parado na Câmara.

André Gelfi, do IBJR, considera a discussão sobre restrições mais duras “prematura”, argumentando que a publicidade legalizada ajuda a canalizar a demanda para empresas regulamentadas, combatendo o mercado ilegal. Forjaz, da Entain, ecoa essa preocupação, apontando que o mercado ilegal carece de verificações de identidade, proteção contra lavagem de dinheiro e outras salvaguardas. Ele defende que os recursos injetados pelas bets no futebol brasileiro têm sido fundamentais para o desenvolvimento do esporte.

Fonte: G1

Adicionar um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Imagens e vídeos são de seus respectivos autores.
Uso apenas editorial e jornalístico, sem representar opinião do site.

Precisa ajustar crédito ou solicitar remoção? Clique aqui.

Publicidade