A bolsa de valores brasileira tende a registrar um impulso significativo em seus índices, com projeções indicando uma alta de aproximadamente 12% em três meses e podendo alcançar 25% em seis meses, após o início do ciclo de flexibilização monetária pelo Banco Central. A análise é de Juliano Arruda, diretor de Renda Variável para a América Latina do Goldman Sachs, em Entrevista ao Estadão/Broadcast.
A expectativa do banco de investimento é que os cortes na taxa Selic comecem em janeiro de 2026, período que antecede a eleição presidencial. Caso este ciclo de redução de juros não se concretize conforme o esperado, o Mercado financeiro pode observar uma forte correção no desempenho do Ibovespa, principal índice da B3.
Arruda também destacou que as empresas brasileiras apresentam uma alavancagem (endividamento em relação ao PIB) superior à média dos mercados emergentes. Essa característica, combinada com a perspectiva de juros mais baixos e um dólar mais fraco, favorece os ativos de risco no país.
As projeções do Goldman Sachs para a Selic apontam para 12,25% ao final de 2026, 10,50% em 2027 e 10,0% em 2028. Em relação ao câmbio, a previsão é de que o dólar atinja R$ 5,10 nos próximos seis a doze meses.
O Ciclo de Juros nos EUA e Seu Impacto Global
Com relação às declarações do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, sobre uma possível pausa nos cortes de juros nos EUA ainda em 2025, Arruda interpretou que pode haver incertezas pontuais para dezembro, mas o caminho para 2026 aponta para mais reduções nas taxas. Ele avalia que o Fed está avançando em seu mandato, com a inflação sob controle e um impacto menos severo do que o esperado das tarifas sobre o crescimento econômico americano.
A projeção de crescimento para a economia dos EUA em 2025, inicialmente estimada em cerca de 1%, agora caminha para 2%. Essa combinação de uma economia americana mais forte em 2026 com inflação controlada é vista como um cenário tipicamente poderoso para os ativos de risco globalmente.
Fluxo Estrangeiro e a Atratividade do Mercado Brasileiro
Embora o fluxo estrangeiro para o Brasil tenha sido positivo em R$ 25 bilhões em 2025, houve uma diminuição em outubro. Arruda explicou que, em um ambiente de dólar fraco, ações de países emergentes tendem a performar bem. O Brasil, com uma alavancagem maior em relação ao dólar, tende a se beneficiar mais da desvalorização da moeda americana do que outros mercados emergentes.
Quando o dólar se fortalece, como ocorreu em outubro com a alta do DXY (índice que mede a força do dólar), o Brasil tende a sofrer mais. Apesar disso, o ambiente de diversificação global para portfólios continua favorável, com investidores buscando maior exposição fora dos Estados Unidos.
O Papel do Ciclo Monetário para o Ibovespa
O ciclo de flexibilização monetária no Brasil é apontado como o principal gatilho para o desempenho do Ibovespa. Após um período de política monetária restritiva, a melhora no comportamento da inflação abre caminho para cortes na Selic. Essa dinâmica doméstica, aliada a um cenário externo favorável à tomada de risco, cria um ambiente propício para a renda variável no país.
O corte de juros impacta diretamente a despesa financeira das companhias e a taxa de desconto, elevando os múltiplos das empresas e reduzindo o prêmio de risco. Historicamente, os sete ciclos de corte da Selic anteriores mostraram forte desempenho da Bolsa, com altas médias de 12% em três meses e 25% em seis meses.
Fatores de Risco e Perspectivas para Múltiplos
Uma possível correção no Ibovespa poderia ocorrer caso o esperado ciclo de corte de juros não se materialize. A ausência de cortes na Selic tornaria improvável a continuidade da alta das ações brasileiras. Embora a magnitude total do ciclo de cortes também seja importante, o cenário mais preocupante seria a inexistência de cortes.
Em relação aos múltiplos P/L (Preço/Lucro), o Ibovespa, que possui forte exposição a commodities e empresas exportadoras, ainda apresenta assimetria positiva para as companhias mais ligadas ao ciclo doméstico.
Competição de Ativos e Reforma Tributária
A alta taxa de juros real no Brasil e produtos de crédito incentivado representam uma concorrência significativa para ativos de risco como fundos multimercado e de Bolsa. Títulos como a NTN-B são fortes concorrentes nesse cenário.
Sobre a reforma tributária, a proposta aprovada pela Câmara dos Deputados que elimina a isenção geral de impostos sobre dividendos pode gerar ajustes pontuais em empresas específicas. No entanto, o mercado tende a desconsiderar esses efeitos. Uma consequência mais relevante seria o potencial aumento de programas de recompra de ações por parte das empresas como forma de retorno aos acionistas, em detrimento da distribuição de dividendos.
Fonte: Estadão