Bolsa perde 14 empresas em um ano: Gol e Pan saem da lista

Bolsa de Valores perde 14 empresas em um ano. Gol e Banco Pan anunciam saída. Especialistas preveem retorno de IPOs apenas em 2027.
saídas da Bolsa — foto ilustrativa saídas da Bolsa — foto ilustrativa

O número de empresas listadas na B3 tem sofrido uma redução expressiva. Recentemente, as companhias Gol e Banco Pan anunciaram seus planos de deixar a Bolsa. Especialistas indicam que novas ofertas públicas iniciais (IPOs) podem ser adiadas até 2027, após o período eleitoral e a definição das diretrizes econômicas do próximo Governo. Em apenas um ano, a B3 viu seu quadro de empresas listadas diminuir de 439 para 425, totalizando 14 saídas.

Este encolhimento contínuo reflete um cenário macroeconômico desafiador, marcado por altas taxas de juros, que favorecem o Mercado de crédito privado. Essa conjuntura impacta o apetite e a demanda por novas ofertas, além de estimular a busca por listagens em bolsas estrangeiras.

Destruição de Valor e Liquidez Reduzida na Bolsa

Há quatro anos não se registra uma oferta inicial de ações (IPO) na B3. No mesmo período, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contabilizou 42 ofertas de aquisição de ações (OPAs), a maioria bem-sucedida, totalizando R$ 17 bilhões. Entre as empresas que saíram ou estão em processo de saída da B3, destacam-se Cielo, companhias do grupo Alfa, Kora Saúde, Eletromídia, Wilson Sons e Serena Energia.

O Carrefour deixou de ser listado por meio da incorporação de sua operação brasileira pela matriz francesa. Houve também fusões entre empresas abertas, como Soma e Arezzo, resultando em uma única entidade. A Neoenergia é outra empresa cotada pelo mercado para fechamento de capital, após a aquisição de participação pela sua controladora Iberdrola. Na Desktop, a compra pela Claro pode levar à saída da Bolsa, segundo analistas.

Cristian Keleti, CEO da gestora AlphaKey, ressaltou que diversas companhias estrangeiras aproveitaram a desvalorização do real para recomprar participações de suas subsidiárias no Brasil. Além das OPAs, os programas de recompra de papéis pelas próprias empresas ou acionistas controladores aumentaram significativamente de 60 em 2023 para 100 em 2024. Keleti interpreta essa tendência como um indicativo de destruição de valor e perda de liquidez na Bolsa, o que pode diminuir o interesse por novas ofertas quando o mercado se reabrir.

O Bank of America (BofA) projeta que empresas brasileiras buscarão o mercado externo antes de uma onda de IPOs retornar ao Brasil, possivelmente em 2027. Hans Lin, corresponsável pela área de banco de investimento no Brasil do BofA, indicou que o cenário ainda é incerto e que os IPOs iniciais devem vir de setores defensivos, como infraestrutura. Ele mencionou que há um grupo de empresas brasileiras, especialmente de tecnologia, de olho no mercado norte-americano, onde as projeções de novas ofertas globais são elevadas.

“Acreditamos que o ano de 2026 pode ser parecido com este ano, dado que os investidores, em momentos de volatilidade, ficam mais cautelosos”, acrescentou Lin. No Brasil, o cenário para IPOs dependerá da velocidade do fluxo de recursos estrangeiros e do ciclo de queda dos juros. “O efeito da eleição dependerá muito da temperatura do que acontecer no fiscal”, disse.

Daniel Wainstein, sócio da Sêneca Evercore, considera o hiato de quatro anos sem IPOs compreensível, apesar dos efeitos negativos. “As janelas no Brasil costumam abrir esporadicamente, e a cada quatro ou cinco anos não é nada fora do normal”, afirma. Ele nota que essa dinâmica “acaba atraindo quem está preparado e quem não está, quem está em bom momento e quem não está”. Wainstein acredita que um novo ciclo de IPOs dificilmente se iniciará no próximo ano, com aparições pontuais de ofertas após as eleições presidenciais. “Se houver alguma janela será depois da eleição presidencial, dependendo do discurso e de quem sair vitorioso, nenhum IPO provavelmente deve acontecer antes de 2027”, acrescenta.

B3: Diversificação para Compensar Menos Ações Listadas

Diante das mudanças no mercado, a B3 tem conseguido mitigar a dependência da negociação de ações em seu mix de produtos, conforme aponta Pedro Carvalho, chefe no Brasil de análise de instituições financeiras não bancárias da Fitch Ratings.

A negociação de ações é inerentemente mais volátil, sujeita às flutuações do mercado. Por isso, Carvalho ressalta que a B3 tem expandido investimentos em segmentos mais estáveis, agregando novos serviços e produtos como fundos de índices (ETFs) e derivativos de criptoativos. Adicionalmente, a bolsa adquiriu empresas de tecnologia e dados, setores com potencial de crescimento impulsionado pela inteligência artificial.

Embora perca em volume de negociação de ações devido ao menor número de empresas listadas, a B3 mantém outros diferenciais importantes. Sua estrutura verticalizada inclui clearing, registro de ativos, alienação de garantias de veículos e atuação como depositária de renda fixa. “A B3 perde no trading de ações, mas ganha em segmentos mais estáveis”, observa o analista da Fitch, cuja agência atribui à B3 um rating superior ao soberano do Brasil e em paridade com grandes bancos como Itaú e Bradesco.

Fonte: Estadão

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