TCU: Famílias do Bolsa Família gastam R$ 3,7 bi em apostas online

TCU aponta que famílias do Bolsa Família gastaram R$ 3,7 bilhões em apostas online em janeiro de 2025. Risco de fraudes e endividamento é alertado.
Bolsa Família e apostas — foto ilustrativa Bolsa Família e apostas — foto ilustrativa

Um levantamento recente do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou que famílias beneficiárias do Bolsa Família transferiram R$ 3,7 bilhões para casas de apostas em janeiro de 2025. Este valor representa 27% dos R$ 13,7 bilhões distribuídos pelo programa social no mesmo período.

O estudo indica que 4,4 milhões das 20,3 milhões de famílias atendidas pelo Bolsa Família tiveram algum membro envolvido com apostas online. Uma parcela significativa dessas famílias enfrenta um quadro de endividamento.

O levantamento, que cruzou CPFs de apostadores com dados do Bolsa Família, focou em sites de apostas autorizados. No entanto, a proliferação de bets ilegais continua sendo uma preocupação, apesar das iniciativas para combatê-las.

Risco de fraudes e uso indevido de CPFs

O TCU identificou um “elevado risco” de que contas de famílias do Bolsa Família estejam sendo utilizadas para fraudes e outras atividades ilegais relacionadas a apostas online. Essa suspeita é reforçada pelo fato de que 20% das famílias que gastaram com apostas foram responsáveis por cerca de 80% das Transferências totais, com alguns casos de valores incompatíveis com a renda, chegando a R$ 2 milhões em um único mês.

Especificamente, 889 mil famílias concentraram R$ 2,9 bilhões em apostas, o que corresponde a 78% do total gasto por grupos familiares no programa. Essas famílias representam 4,37% do total de beneficiários do Bolsa Família.

Gráfico ilustrando a relação entre gastos em apostas e beneficiários do Bolsa Família.
Gráfico ilustrando a relação entre gastos em apostas e beneficiários do Bolsa Família.

Endividamento e impacto nas famílias

A análise do TCU comparou os valores gastos em apostas com a renda média das famílias e o benefício do Bolsa Família (R$ 671,91 em janeiro). Dos 4,4 milhões de lares com apostadores, 3,2 milhões destinaram até R$ 600, enquanto 371,7 mil gastaram até R$ 1 mil, e 820,2 mil superaram R$ 1 mil em apostas.

Neste último grupo, as discrepâncias são notáveis: uma única família transferiu R$ 2,1 milhões, e 663 famílias gastaram entre R$ 100 mil e R$ 1,4 milhão. O relatório aponta que esses valores são incompatíveis com a renda típica de beneficiários do Bolsa Família e de grande parte da população brasileira, o que levanta sérias suspeitas.

“Essa situação alerta para a possibilidade da utilização indevida de CPFs de beneficiários do programa para não somente as apostas em plataformas online como para outras fraudes e práticas ilegais”, afirma o relatório do TCU.

O estudo classificou 2.818 famílias em “situação crítica” e de “alto risco social” devido ao endividamento com apostas. Outras 23.397 estão em “início de endividamento” e 774.678 com “comprometimento das necessidades básicas”. Somadas, essas mais de 800 mil famílias enfrentam problemas financeiros relevantes.

No entanto, o estudo também relativiza, informando que a maioria (81,97%) das 4,4 milhões de famílias com apostadores comprometeu menos de 2% de sua renda, o que seria considerado um risco baixo ou médio.

Regularização e medidas governamentais

A análise do TCU, que cruzou dados de apostas de janeiro de 2025 com beneficiários de dezembro de 2023, é considerada o Diagnóstico mais amplo da relação entre beneficiários e sites de apostas até o momento. Supera em metodologia uma nota técnica anterior do Banco Central, que indicou R$ 3 bilhões repassados via Pix para apostas, mas teve sua metodologia questionada.

O ministro relator do caso no TCU, Jhonatan de Jesus, destacou que as bets se tornaram um “verdadeiro ‘cassino de bolso’ acessível a milhões de brasileiros”, agravando o endividamento familiar e impactando a estabilidade social, especialmente entre os mais vulneráveis. Ele ressaltou a necessidade de atenção imediata ao cenário de risco social crítico e suspeitas de fraudes.

Em resposta, o Ministério da Fazenda, através da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), estendeu por mais 30 dias o prazo para que as empresas de apostas implementem a proibição de cadastros de beneficiários do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Essa medida atende a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que ordenou o Governo a vetar o uso de recursos de programas assistenciais em apostas online. Contudo, o impacto da proibição pode ser limitado, já que homens são maioria entre apostadores, enquanto mulheres costumam ser as titulares dos benefícios.

Fonte: Estadão

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