Cinco grandes instituições financeiras, incluindo Master, Genial, Santander, Haitong e Travelex, estão sob investigação da Polícia Federal (PF) por suposto envolvimento em um esquema bilionário de evasão de divisas e lavagem de dinheiro utilizando criptoativos. De acordo com a apuração, esses bancos movimentaram R$ 13,4 bilhões em contratos de câmbio com apenas quatro alvos da Operação Colossus. A PF concentrou a investigação em quatro alvos principais que operaram com criptoativos: o empresário José Eduardo Froes e as empresas OWS Brasil Intermediações, ZM Consultoria Gestão e Makes Exchange Serviços Digitais Ltda.
Investigação da PF e Movimentação Financeira
A Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros (Delecor) informou à Justiça que, devido à complexidade e ao grande número de envolvidos, o foco seria em quatro alvos que utilizaram criptoativos. A representação de 442 páginas da Delecor, enviada ao juiz Diego Paes Moreira da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, detalha as condutas e levou à concessão de medidas cautelares contra os bancos. A PF suspeita que os bancos tinham ciência das atividades ilícitas de alguns clientes, mas que a ciência foi seletiva.
Detalhes da Operação por Instituição
Travelex
O Travelex firmou 1.538 contratos de câmbio com a ZM Consultoria (mais de R$ 1 bilhão), 3,3 mil com a OWS Brasil (mais de R$ 1,7 bilhão) e mais de 543 com a Makes Exchange (R$ 1 bilhão). Ao todo, movimentou R$ 4,04 bilhões dos quatro principais investigados, sem encaminhar a documentação suporte para as operações à PF. A investigação aponta que o banco tinha ciência das atividades ilícitas, tratando alguns investigados com diferenciação.
Genial
O Genial realizou 327 contratos de câmbio com Froes (R$ 855,8 milhões) e 711 com a OWS Brasil (R$ 1,554 bilhão), além de mais de 1,3 mil contratos com a Makes Exchange (mais de R$ 2,5 bilhão). Com os quatro principais investigados, movimentou R$ 4,9 bilhões. A PF destaca que parte dos contratos ocorreu sob a natureza de remessa de valores para aumento de capital social, mas que, na verdade, foram usados para compra de criptomoedas. O banco teria feito comunicações ao COAF sobre Froes, mas não sobre outras empresas investigadas.
Santander
O Santander registrou 462 contratos com Froes (R$ 162 milhões) e R$ 177 milhões da ZM Consultoria. Embora tenha encaminhado parcialmente os documentos, 51 contratos ficaram sem a documentação requisitada. As operações, registradas como aumento de capital social, também teriam servido para a compra de criptoativos. A PF indica que o banco tinha ciência do real motivo das remessas, promovendo evasão de divisas.
Master
O Banco Master firmou mais de 3,2 mil contratos de câmbio com o grupo Froes, totalizando R$ 2,07 bilhões. Apenas 15 atas de aumento de capital social foram enviadas como documentação suporte, sem referência aos contratos, impossibilitando a auditoria. A PF concluiu que a realização de operações de câmbio sem documentação suporte indica evasão de divisas e gestão temerária. O banco também não informou ao COAF sobre as operações atípicas.
Haitong Brasil
O Haitong Brasil realizou 534 contratos com o grupo Froes (R$ 1,6 bilhão) e 312 com a ZM Consultoria (mais de R$ 600 milhões), encaminhando grande quantidade de documentos. Contudo, os contratos apresentavam falhas graves de conformidade. Um relatório de visita do banco à ZM Consultoria concluía de forma positiva, mas a PF identificou que a ZM não possuía controles de compliance. O Haitong não fez comunicações ao COAF sobre operações suspeitas.
Posicionamento dos Bancos e Investigados
O Genial afirmou colaborar integralmente com as autoridades, fornecendo toda a documentação pedida e realizando comunicações ao COAF quando necessário. O Banco Master reiterou sua colaboração permanente e que as operações de 2019 seguiram as normas vigentes. O Santander declarou não ser investigado ou acusado na operação, pois cumpre integralmente a legislação. O Travelex não reconheceu fundamento nas informações da PF, afirmando atuar em conformidade com a legislação. A Defesa de Vinícius Zampieri garantiu que ele pauta suas atividades pela transparência e está à disposição das autoridades.
Fonte: Estadão