Um estudo recente aponta que o setor de audiovisual brasileiro alcançou a marca de R$ 70,2 bilhões em 2024, representando 0,6% do PIB (Produto Interno Bruto Nacional). Os dados foram apresentados no lançamento da Fica (Federação da Indústria e Comércio Audiovisual), em evento no Rio de Janeiro. Uma das principais demandas do setor é a criação de uma agência governamental para impulsionar a exportação de produções nacionais.


Impacto Econômico do Audiovisual Brasileiro
O estudo, intitulado “A contribuição econômica da indústria audiovisual no Brasil em 2024″ e realizado pelo Oxford Economics, braço de pesquisas da Universidade de Oxford, revelou que o setor gerou mais de 608,9 mil empregos, incluindo diretos, indiretos e induzidos. Esses números superam os de setores como a indústria automobilística, farmacêutica e têxtil, conforme comparativos baseados em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geogaria e Estatística). A indústria automotiva representou entre 2% e 2,5% do PIB em 2024, o têxtil entre 0,4% e 0,7%, e a farmacêutica entre 0,1% e 0,3%.
A pesquisa também destacou o efeito multiplicador da indústria: para cada R$ 10 milhões de valor criado pelo audiovisual, houve uma contribuição adicional de R$ 12 milhões ao PIB, totalizando uma geração estimada de R$ 9,9 bilhões em impostos. A renda média dos trabalhadores do setor foi de R$ 6.800, 84% superior à média nacional de R$ 3.700.

O Modelo Sul-Coreano e a Busca por Política de Estado
A Fica propõe que o audiovisual seja tratado como uma política de estado, inspirada no modelo da Coreia do Sul. O objetivo é que o setor atinja 1,5% do PIB, o que representaria cerca de R$ 175 bilhões com base nos números de 2024. A federação enfatiza que o audiovisual é uma indústria limpa e sustentável, que demanda investimento em inovação e utiliza a inteligência artificial como ferramenta chave.
A Coreia do Sul, com seu sucesso em cinema, K-Pop e animes, utiliza o audiovisual como ferramenta de soft power, gerando cerca de US$ 11 bilhões (aproximadamente R$ 58,5 bilhões em valores atuais) em exportações, considerando diversas categorias como Música, filmes, TV, jogos e conteúdo digital. O Brasil, por outro lado, registrou US$ 234,5 milhões (R$ 1,24 bilhão) em exportações em 2023, com uma projeção de crescimento anual de 19% desde 2017.
Segundo Walkiria Barbosa, produtora de cinema e televisão e presidente da Fica, o sucesso sul-coreano se deve a uma política de estado implementada há 20 anos. O governo sul-coreano percebeu que a Receita com a indústria audiovisual superava a venda de carros, um setor tradicionalmente forte no país.

Desafios e Oportunidades para o Setor
Entre as medidas solicitadas pelas empresas do setor está o combate à pirataria, que representa uma evasão de impostos estimada em R$ 14 bilhões anuais no audiovisual brasileiro. O estudo da Oxford Economics também aponta o potencial do “turismo de tela”, onde cenários de filmes e séries inspiram viagens, com 53% dos usuários de plataformas de viagem já tendo reservado um destino após vê-lo em produções audiovisuais, segundo pesquisa da Expedia.
O relatório finaliza destacando a crescente visibilidade do conteúdo brasileiro no mercado global. Plataformas internacionais têm licenciado e encomendado séries e filmes nacionais, com títulos como “Sintonia” (Netflix) e “Dom” (Amazon Prime Video) alcançando sucesso tanto no Brasil quanto internacionalmente. Esse cenário reforça a necessidade de uma política industrial consolidada para o setor.
Fonte: Folha de S.Paulo