O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa, emitiu um alerta sobre a crescente vulnerabilidade do sistema elétrico brasileiro. Segundo ele, a “rampa de carga” das usinas hidrelétricas, que representa a variação entre a demanda e a geração de energia, pode saltar dos atuais 40 gigawatts (GW) para 53 GW em 2028, um aumento de 33%, caso medidas não sejam tomadas. Essa escalada está diretamente ligada à rápida penetração da energia solar no país.
A chamada rampa de carga é um momento crítico para a estabilidade do sistema. Ela ocorre no final da tarde, quando a geração solar fotovoltaica diminui e o consumo de energia aumenta significativamente, com o acendimento de luzes e o uso de equipamentos. Esse período de transição, com descida da geração solar e subida da demanda, é considerado de alta vulnerabilidade.
Ameaça à Estabilidade do Sistema
Feitosa descreveu a situação como “extremamente perigosa”. Ele explicou que, durante esse pico de demanda no final da tarde, qualquer incidente, como a danificação de um equipamento importante ou uma descoordenação em sistemas de proteção, poderia levar ao Colapso do sistema elétrico. “Simplesmente ‘vai a pique’ o sistema”, ressaltou o diretor-geral.
Para dimensionar o risco, os 40 GW mencionados pelo diretor-geral equivalem ao pico de demanda da Espanha. Já os 53 GW projetados para 2028 superam o consumo de toda a península Ibérica, incluindo Espanha e Portugal juntos. Essa projeção evidencia a magnitude do desafio que o setor elétrico brasileiro enfrenta com o crescimento acelerado das fontes renováveis.
Desafios da Geração Distribuída
O Brasil tem vivenciado um cenário onde a geração de energia supera a demanda durante o dia, impulsionada principalmente pela expansão da geração distribuída. Essa modalidade inclui a energia produzida por consumidores com painéis solares instalados em telhados de residências e estabelecimentos comerciais, que injetam o excedente diretamente na rede de distribuição.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é o órgão responsável por coordenar a geração de energia em todo o país, decidindo quais usinas devem operar e quais devem reduzir sua produção com base na oferta e demanda. No entanto, o avanço da geração distribuída tem desafiado o controle tradicional exercido pelo ONS, que precisa se adaptar a essa nova dinâmica para garantir a segurança e a confiabilidade do fornecimento de energia.
Fonte: Estadão