A Ambec (Associação de Aposentados Mutualista para Benefícios Coletivos) recebeu R$ 394,5 milhões de repasses do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) entre 2023 e abril de 2025, de acordo com um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). O documento levanta suspeitas sobre o volume das transações e aponta movimentações com indícios de atipicidade.



O levantamento do Coaf indica que a entidade, investigada por descontos irregulares em aposentadorias do INSS, realizou transações milionárias para contas próprias e Transferências para empresas ligadas a Maurício Camisotti, apontado como possível beneficiário do esquema de desvios.
Investigações sobre Descontos Irregulares no INSS
A Ambec ganhou notoriedade após a operação da Polícia Federal e da CGU (Controladoria-Geral da União) em abril de 2025. A ação investigou entidades e empresas que teriam se beneficiado de descontos não autorizados em benefícios previdenciários. Essas entidades possuíam acordos com a Previdência para realizar descontos em folha, mediante autorização dos beneficiários, em troca de serviços. No entanto, as investigações apontam que os descontos estariam sendo feitos sem a devida anuência dos aposentados e pensionistas.
Um relatório da PF destacou o crescimento expressivo da Ambec, com um aumento de 11.092.533% nos descontos de 2021 para 2022, passando de R$ 135 para R$ 14.975.055. O documento da PF sugere que houve um novo aumento nos anos subsequentes.
Movimentações Financeiras Suspeitas da Ambec
O relatório do Coaf detalha que a Ambec recebeu R$ 242,4 milhões do Fundo do Regime Geral de Previdência Social entre dezembro de 2023 e setembro de 2024. Adicionalmente, R$ 23,4 milhões foram creditados entre setembro e novembro de 2024, e R$ 128,7 milhões entre novembro de 2024 e abril de 2025. O crédito de R$ 23,4 milhões ocorreu em um único depósito.

O principal fluxo de dinheiro recebido pelo INSS pela Ambec, depositado em uma conta Bradesco, foi transferido para outra conta da própria entidade no Itaú. Entre agosto de 2023 e abril de 2024, essa segunda conta recebeu R$ 112,9 milhões da primeira. De janeiro a junho de 2025, foram R$ 82,6 milhões com origem e destino semelhantes.
O Coaf expressou preocupação em seu relatório, afirmando que “o faturamento não ampara a movimentação” de recursos. O órgão destacou que a movimentação financeira é incompatível com a capacidade financeira da cliente, considerando o faturamento e o volume transacionado a crédito. Isso pode indicar renda na informalidade, recursos de atividade não declarada, ou favorecimento tributário/ocultação fiscal. O Coaf também apontou o uso de instrumentos de transferência de recursos incomuns para a ocupação ou ramo de atividade da cliente.

Ligações com Maurício Camisotti e Operações
Parte das empresas que mais receberam repasses da Ambec possui ligações com Maurício Camisotti, conforme o relatório da PF. Ele é apontado como possível beneficiário final do esquema e como alguém com influência sobre a entidade.
Os relatórios do Coaf mostram R$ 59,9 milhões pagos à Rede Mais Saúde, administrada pelo filho de Camisotti, Paulo Otávio Montalvão Camisotti. Há também R$ 16,1 milhões repassados à Prospect Consultoria Empresarial, de Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS” e operador do esquema.
Antonio Carlos Camilo Antunes, que prestou depoimento à CPI, negou irregularidades, afirmando que a Prospect sempre atuou dentro da legalidade. A Defesa de Camisotti negou que o empresário tenha obtido vantagem indevida, declarando que a empresa prestou serviços administrativos e tecnológicos à Ambec, sem participar da captação ou gerenciamento de associados.
A Rede Mais Saúde declarou que os recursos recebidos foram por serviços prestados, como descontos em consultas e exames, e telemedicina, e que cancelou os contratos com a Ambec após a operação da PF.
Tanto Antunes quanto Camisotti estão presos desde 12 de setembro. A Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) validou as prisões, argumentando que ambos tentaram frustrar as investigações sobre os descontos em benefícios previdenciários.

Fonte: Folha de S.Paulo