Agro no Brasil: 29% da energia ofertada vem do campo

Agronegócio já é responsável por 29% da energia ofertada no Brasil, com destaque para biomassa, etanol e biodiesel. Entenda o crescimento e as projeções.
Agro na matriz energética brasileira — foto ilustrativa Agro na matriz energética brasileira — foto ilustrativa

O agronegócio brasileiro já responde por quase um terço de toda a energia ofertada no País, representando 29,1% do total em 2023. Segundo estudo do Observatório de Bioeconomia da FGV, baseado no Balanço Energético Nacional (BEN), as principais fontes oriundas do setor agropecuário incluem a biomassa da cana-de-açúcar, o etanol e o biodiesel.

Quando se considera apenas a parcela renovável da matriz energética brasileira, a participação do agro alcança 60%. As demais fontes renováveis são a energia hidrelétrica (24,02%), eólica (5,24%), solar (3,46%), lenha de vegetação natural (6,98%) e biogás de resíduos não agrícolas (0,22%).

Gráfico ilustrando a participação do agronegócio na matriz energética brasileira.
Participação do agronegócio na matriz energética.

Diversificação e Inovação nas Fontes de Energia Agropecuária

O protagonismo do setor agropecuário no fornecimento de energia é impulsionado por iniciativas inovadoras que buscam ampliar e diversificar as fontes de geração. Em Fortaleza, a Embrapa, em Parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC), desenvolveu um sistema para converter frutas e verduras descartadas em biogás, agregando valor a resíduos orgânicos.

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No Rio Grande do Sul, a cidade de Santiago abriga a primeira usina de etanol de trigo do Brasil. Com capacidade para processar cem toneladas do cereal diariamente, a planta tem potencial para produzir até 12 milhões de litros de etanol hidratado anualmente.

Combustível Sustentável de Aviação (SAF) e o Futuro do Agro

Um projeto promissor, com apoio da Finep, da Universidade Estadual de Maringá (PR) e financiamento de um ministério alemão, visa inaugurar em 2026 uma planta-piloto para a produção de combustível sustentável de aviação (SAF). A iniciativa utilizará resíduos orgânicos, especialmente do setor sucroenergético, com a meta de gerar 100 mil litros por ano e escalar para volumes entre 40 e 80 milhões de litros nos próximos anos.

A trajetória da bioenergia gerada pelo agro desde os anos 1970, que antecederam o lançamento do Proálcool, mostra um crescimento exponencial. A produção saltou de 6,5 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (TEP) para mais de 91 milhões de TEP em 2023. Essa ascensão contribui significativamente para que o Brasil possua uma das matrizes energéticas mais renováveis do planeta, conforme análise de Luciano Rodrigues, um dos autores da pesquisa da FGV.

Evolução Histórica e Perspectivas do Setor

Inicialmente, nos anos 1970, a lenha e o carvão vegetal representavam 40% da energia agropecuária. O Proálcool impulsionou a cana-de-açúcar, embora o setor tenha enfrentado uma crise entre 1988 e 2003. Nesse período, a oferta de lixívia (resíduo da indústria de papel e celulose) cresceu consideravelmente.

A partir de 2003, a energia proveniente da cana-de-açúcar retomou seu crescimento, impulsionada pelos veículos flex e pela bioeletricidade gerada com o bagaço. Atualmente, a biomassa da cana é responsável por 48% da energia fornecida por petróleo e derivados no Brasil. Fontes como lixívia, lenha e carvão vegetal também registraram expansão.

Luciano Rodrigues destaca que, sem a bioenergia do agro, o percentual de energias renováveis no Brasil cairia para cerca de 20%, aproximando-se da média global. As condições favoráveis do agro nacional — como vasta área disponível, clima e solo propícios, e tecnologia adaptada à agricultura tropical — são cruciais para um desempenho ainda maior no futuro. “O mundo busca soluções para reduzir poluentes. Nós podemos oferecer diversas opções”, ressalta.

Projeções e Potenciais do Mercado de Bioenergia

A consultoria Treesales, em um estudo realizado pela Imma, aponta que o potencial do segmento de bioenergia se apoia em três eixos principais: biotecnologia, digitalização e a capacidade do setor de se tornar carbono negativo.

No eixo da biotecnologia, esperam-se avanços no etanol de milho, no etanol de segunda geração da cana (que pode adicionar 40 bilhões de litros à produção sem expansão de área), no SAF (com projeção de o Brasil dominar 25% do mercado mundial até 2030) e no hidrogênio verde.

A digitalização das operações tem o potencial de reduzir custos de produção em 30% e aumentar a produtividade em 20% até 2030. O terceiro eixo é a meta de o Brasil sequestrar 50 milhões de toneladas de CO₂ anuais por meio de práticas regenerativas, tornando-se carbono negativo no mesmo período. Luciano Fernandes, CEO da Treesales, estima em 65% as chances de o Brasil liderar globalmente a bioeconomia até lá, com produção diversificada. Ele enfatiza, porém, a necessidade de políticas públicas e legislação que fomentem o setor.

Investimentos Crescentes em Bioenergia e Biocombustíveis

A Geo bio gas&carbon anunciou um investimento de R$ 20 milhões para construir uma planta-piloto de SAF a partir de resíduos do setor sucroenergético. O projeto visa entregar combustível de aviação com emissões de gases de efeito estufa até 50% menores, alinhado ao PL do Combustível do Futuro, que estabelece reduções obrigatórias nas emissões aéreas a partir de 2027.

Outros empreendimentos reforçam a diversificação energética. A CB Bioenergia está investindo R$ 100 milhões na primeira usina de etanol de trigo em Santiago (RS). A produção inicial de 12 milhões de litros anuais deve crescer para 45-50 milhões até 2027, demandando novos aportes de R$ 500 milhões.

O sistema da Embrapa e UFC, que transforma frutas e verduras impróprias para consumo em biogás, já está em operação. Testado em parceria com a Ceasa de Fortaleza, o modelo gera de 40 a 60 litros de biogás por quilo de matéria-prima, conforme o pesquisador Renato Leitão. O projeto, em fase experimental, pode ser expandido para outras centrais de abastecimento e packing houses, combatendo o desperdício de alimentos, que atinge 42% no Brasil, segundo a FAO.

Fonte: Estadão

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