Um advogado que investigava descontos irregulares em benefícios previdenciários, Eli Cohen, admitiu ter recebido orientações de Duda Lima, marqueteiro do PL, sobre como se portar em seu depoimento à CPI do INSS. A informação, confirmada pelo próprio advogado, surgiu de áudios obtidos pela reportagem.


Nas gravações, Cohen relata conselhos recebidos: “primeiro lugar, nunca esqueça, a casa é deles, não é sua. Não tente ser esperto, não tente ser isso, não tente dar saidinha. Você está na casa deles. Segundo lugar, quando você for falar com o cara, mira no olho dele. Seja da direita, seja da esquerda, mira.” O advogado ressaltou, no entanto, que as dicas não configuraram um treinamento formal e que ele não se sentiu preparado para o depoimento.

Contexto da CPI e o Papel do PL
A notícia de que o advogado poderia ter recebido auxílio de pessoas ligadas ao PL para se preparar para o depoimento já havia sido divulgada anteriormente, sendo explorada por integrantes do Governo. Cohen, que expôs informações sobre o esquema de descontos irregulares, alega ser alvo de uma “incessante destruição de caráter”.
Duda Lima, chefe da comunicação do PL, confirmou ter passado orientações, mas negou que isso configure um treinamento formal, argumentando que suas orientações são parte de seu trabalho e que não questiona com quem fala. Ele afirmou que um treinamento ministrado por ele seria de dias e constante.
Em resposta à comissão, Cohen negou ter participado de treinamento promovido pelo PL ou qualquer outro partido. Em um ofício enviado à CPI, ele declarou que a matéria publicada “carece de veracidade e comprometimento com os verdadeiros fatos”.

Detalhes da Interação e Reações
Cohen confirmou à reportagem ter recebido as dicas de Duda Lima através de um amigo em comum, Wellington. Segundo o advogado, a conversa com Lima foi breve e ocorreu na véspera de seu depoimento, em 31 de agosto, e ele mal conseguiu absorver as orientações, que incluíam manter contato visual com os interrogadores e lembrar que “a casa é deles”.
A Polêmica gerou reações dentro da CPI. O coordenador da bancada governista, Paulo Pimenta (PT-RS), chegou a defender um novo depoimento de Cohen, sugerindo que o caso poderia configurar obstrução à investigação. Por outro lado, o líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN), minimizou o episódio, afirmando que, se houve treinamento, foi “muito mal empregado”. Marinho também relatou ter consultado o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que negou a existência de tal treinamento.
Duda Lima tem um histórico como marqueteiro, tendo chefiado o marketing da campanha de reeleição de Jair Bolsonaro em 2022 e atuado na campanha de Ricardo Nunes em São Paulo em 2024, onde foi agredido em um debate.
Fonte: Folha de S.Paulo