O agronegócio brasileiro se consolida como força global com uma safra Recorde em 2025, impulsionada pela expansão de culturas emergentes como o sorgo. Essa diversificação produtiva, no entanto, expõe antigos gargalos logísticos e a crescente demanda por práticas sustentáveis.

Expansão do Sorgo no Oeste Baiano
O sorgo, tradicionalmente utilizado em rotação com a soja para alimentação animal, tem ganhado espaço como cultura de safrinha no oeste baiano nos últimos três anos. Sua adoção não se restringe à pecuária, avançando também na cadeia de biocombustíveis e indicando um potencial de crescimento exponencial.
Celito Missio, CEO da Oilema Sementes, relata que a região, antes subexplorada, tornou-se estratégica para o desenvolvimento do agronegócio nacional. A Oilema Sementes, em Parceria com uma transnacional americana, oferece híbridos de sorgo que expandiram de 5 mil hectares em 2023 para 70 mil hectares em 2025, com projeção de superar 100 mil na próxima temporada.
A expansão do sorgo é atribuída a quatro fatores principais: 1) custo de produção inferior ao do milho; 2) potencial de conversão energética semelhante ao do milho na alimentação do gado quando submetido à silagem pré-hidratada; 3) a futura operação de uma biorrefinaria da Inpasa em Luís Eduardo Magalhães, maior produtora de combustível renovável da América Latina; e 4) as possibilidades de exportação para a China, para a qual o Brasil já possui habilitação.
Missio destaca que o clima baiano é mais propício ao sorgo na safrinha do que ao milho. Anteriormente, o capim braquiária era usado para cobertura de solo, mas o sorgo tem atraído crescente interesse. A Oilema Sementes distribui suas sementes não só na Bahia, mas também em Mato Grosso, Maranhão, Tocantins, Piauí, Pará, Rondônia e Goiás, com forte expectativa de crescimento futuro.

Diversificação das Culturas Emergentes
Segundo o professor Marcos Fava Neves, a expansão do sorgo exemplifica a diversidade agrícola brasileira. O País se consolida como uma “fábrica de alimentos” global, com cadeias produtivas consolidadas como soja e milho, e outras emergentes ganhando força.
Entre as culturas emergentes em ascensão estão o gergelim (com Mato Grosso como principal produtor), aveia e canola (destaque para o Rio Grande do Sul), e a cevada (concentrada no Paraná, adaptada a climas frios).
O lúpulo também está expandindo em Santa Catarina e São Paulo, impulsionado pela indústria cervejeira. O mel mantém alta demanda externa, com o Paraná liderando a produção nacional. Frutas como manga, melão e limão devem apresentar incrementos significativos até 2033, segundo projeções do Ministério da Agricultura. A uva, impulsionada pela indústria do vinho, e o cacau, com previsão de dobrar a colheita até 2030 apesar de desafios recentes, também se destacam.
Inovação no Cultivo de Lúpulo
Em Araraquara (SP), um casal de produtores, Luciana Andréa Pereira e Isidro Ybarzabal Pons, lidera um centro de processamento de lúpulo, fundamental para consolidar a cultura no País. O Brasil ainda importa 99% do lúpulo consumido, mas iniciativas como essa sinalizam um novo cenário.
A propriedade, com um hectare plantado, tornou-se um centro de processamento inaugurado em agosto, fruto de parceria com o governo paulista. A estrutura beneficia até uma tonelada diária, integrando o Programa SP Produz e recebendo um selo de certificação que reconhece o lúpulo de Araraquara.
O projeto envolve 45 parceiros, incluindo produtores, universidades, agrônomos e empresas, com o objetivo de ampliar áreas de cultivo e estimular assentamentos rurais. Um manual técnico de boas práticas foi desenvolvido para disseminar conhecimento e reduzir custos de implantação.
Graças a pesquisas de instituições como a Universidade Estadual Paulista (Unesp), o lúpulo adaptou-se ao clima tropical brasileiro com cultivares premiadas internacionalmente. A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) apoia o desenvolvimento de maquinários para beneficiamento e armazenamento.
Luciana ressalta a criação de um ecossistema que vai além da produção agrícola, envolvendo turismo e cervejarias locais. Novos produtos e usos para o lúpulo, como água lupulada, cosméticos, pães e sorvetes, demonstram o potencial inovador da cadeia produtiva.
Fonte: Estadão