O secretário de Agricultura de São Paulo, Guilherme Piai, classificou como incompetentes os ex-servidores que denunciaram supostos desvios na pasta. Ele negou ter tentado frear investigações sobre pagamentos irregulares feitos em sua gestão. O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) apura 147 casos que já resultaram em 12 ações civis por pagamentos feitos no final de 2022 a empresas contratadas para obras em estradas rurais. Servidores envolvidos nas investigações iniciais foram demitidos e relataram que os afastamentos foram motivados pela descoberta de irregularidades.


Investigações do MP-SP e Demissões
O MP-SP iniciou 147 inquéritos após identificar pagamentos suspeitos a empresas responsáveis por obras de conservação e manutenção em estradas rurais paulistas. Segundo relatos, todos os servidores que colaboraram com o início das apurações foram demitidos da secretaria, alegando que os afastamentos ocorreram devido à descoberta de irregularidades. O ex-secretário-executivo da Agricultura, Marcos Rogério Böttcher, chegou a relatar ao MP-SP que o próprio governador Tarcísio de Freitas teria ordenado uma das demissões.
Posição do Secretário Guilherme Piai
Durante um evento no hotel Grand Hyatt, em São Paulo, o secretário Guilherme Piai minimizou as investigações, afirmando que parte dos inquéritos já havia sido arquivada. Sua assessoria de imprensa posteriormente retificou a informação, esclarecendo que houve pedidos de arquivamento por parte de alguns promotores, mas que o MP-SP decidiu prosseguir com as apurações. Piai declarou que quem o acusa de tentar barrar as investigações são pessoas que não aceitaram não entregar resultados, e que sua gestão tem surpreendido positivamente o agronegócio paulista. Ele também mencionou que as irregularidades denunciadas são referentes à gestão anterior, e que o programa de estradas rurais de sua gestão não possui apontamentos do tribunal de contas.
Em Entrevista, Piai afirmou que apurou internamente as denúncias com uma equipe de concursados e que imediatamente enviou tudo ao Ministério Público e à Procuradoria-Geral do Estado. Ele ressaltou que não é técnico no assunto, mas que seguirá as recomendações da Controladoria-Geral do Estado para sancionar empresas e fornecer informações adicionais sobre os cálculos de reequilíbrio, que foram impactados pelo aumento do preço do diesel em 2022. Piai expressou tristeza ao ver pessoas demitidas por incompetência tentarem ligá-lo a fatos ocorridos em 2022, quando ele sequer ocupava cargo público.
Contestação das Evidências
O promotor Ricardo de barros Leonel, responsável por 13 ações civis, manteve os processos após o Caex (Órgão de análises técnicas do MP-SP) confirmar a irregularidade dos pagamentos. Ele contestou a versão de Piai, que sugeriu que o relatório da Procuradoria foi feito às pressas e sem oitiva de ninguém. Piai explicou que sua equipe realizou meses de oitiva e analisou milhares de páginas, e que ele apenas acatou o que recebeu de funcionários sérios e com credibilidade, enviando imediatamente ao Ministério Público. Ele reconheceu que um promotor decidiu criar um novo processo, enquanto outro arquivou, o que é parte do trabalho do MP-SP.
Autonomia e Liderança do Governador
Guilherme Piai negou veementemente que o governador Tarcísio de Freitas tenha interferido nas demissões ou nas investigações. Segundo Piai, o governador o nomeou pelo seu trabalho no Itesp e lhe deu autonomia, afirmando que ele não precisava ceder a pressões políticas e deveria focar em entregar resultados para o agronegócio paulista. Piai acusou o ex-secretário-executivo Böttcher de ser um incompetente que não entregou nada e de ter criado a narrativa de que o governador o demitiu por ter denunciado as irregularidades, o que Piai classificou como mentira provada.


Fonte: Folha de S.Paulo