A China intensificou seu controle sobre o fornecimento global de metais de terras raras, provocando instabilidade nos mercados globais. Essa ação, no entanto, surge em um momento oportuno para a Austrália, permitindo ao primeiro-ministro Anthony Albanese apresentar uma proposta estratégica durante negociações com os Estados Unidos.
Em seu primeiro encontro com Donald Trump na Casa Branca, Albanese discutiu um acordo para garantir o Acesso aos vastos recursos minerais australianos e sua expertise em mineração, visando suprir os EUA com esses materiais críticos.
Ao se posicionar como um fornecedor confiável fora do domínio chinês, a Austrália busca não apenas vantagens em acordos comerciais e de Defesa, mas também deseja ressaltar a vulnerabilidade dos EUA diante do controle chinês sobre materiais essenciais. Com a atenção de Trump voltada para essa questão, a Austrália pode obter uma posição favorável para sua proposta.
Oportunidade Estratégica para a Austrália
“O timing é perfeito”, declarou Ian Satchwell, professor adjunto na Universidade de Queensland, enfatizando que o acordo fortalece os laços bilaterais. “A questão dos minerais críticos é mais uma corda no arco da aliança”, acrescentou.
A ministra dos Recursos da Austrália, Madeleine King, acompanhou Albanese. Diversas empresas de mineração australianas relataram ter sido orientadas a informar seus representantes nacionais antes da reunião na Casa Branca.
Na sexta-feira anterior ao encontro, o Tesoureiro da Austrália, Jim Chalmers, destacou em Washington que a crescente demanda por minerais críticos representa uma potencial Vitória econômica para o país. “Vamos garantir que aproveitemos ao máximo esta oportunidade absolutamente única para a Austrália”, afirmou.
A Importância dos Metais de Terras Raras
Os metais de terras raras, cuja mineração e processamento são majoritariamente controlados pela China, são fundamentais para tecnologias modernas, desde semicondutores e veículos elétricos até aeronaves de combate. Contudo, os altos Custos, os impactos ambientais e a produção chinesa a baixo custo têm dificultado a entrada de outros países nesse mercado.
A Austrália já vivenciou o poder de controle chinês na indústria. Em 2010, Pequim restringiu o fornecimento de terras raras ao Japão durante uma disputa territorial. Em resposta, Tóquio investiu significativamente em uma empresa de mineração australiana para assegurar uma fonte alternativa.
Implicações Geopolíticas e Econômicas
Ao oferecer auxílio aos EUA com minerais críticos, a Austrália pode avançar em outras pendências, como o pacto de submarinos nucleares AUKUS, a suspensão de tarifas sobre aço e alumínio, e maior flexibilidade em relação às demandas americanas por aumento nos gastos com defesa.
Durante a reunião, Albanese pode enfrentar pressão sobre o dilema australiano: os laços de defesa próximos com os EUA versus a dependência econômica da China, que representa um terço das exportações australianas.
Desafios e Perspectivas Futuras
Scott Bessent, Secretário do Tesouro de Trump, ameaçou um “desacoplamento” econômico da China caso o país mantivesse seus controles sobre terras raras.
“É uma conversa mais desconfortável para a Austrália, considerando a estrutura de sua economia”, ponderou Charles Edel, especialista em Austrália no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
Hayley Channer, diretora do programa de segurança econômica do Centro de Estudos dos Estados Unidos em Sydney, alertou sobre o desafio de convencer o governo Trump a investir na mineração australiana, em vez de apenas transferir expertise para os EUA.
“O trabalho da Austrália é tornar o acordo extremamente convincente para os EUA e benéfico para a Austrália como um todo, evitando que mais expertise australiana seja transferida para os EUA”, explicou Channer.
Ela ressaltou que a colaboração em terras raras exemplifica a importância das alianças em um mundo fragmentado. “Obviamente, é mais complicado e leva mais tempo para negociar com parceiros”, disse. “Mas, a longo prazo, é assim que se consegue a cadeia de suprimentos e as economias de escala necessárias para superar a China.”
Fonte: Estadão