Uma análise do Fundo Monetário Internacional (FMI) revela por que a política industrial implementada na Coreia do Sul nos anos 70 obteve resultados significativamente melhores que a brasileira. A comparação detalhada está no capítulo 3 do World Economic Outlook de outubro de 2025.
O estudo foca na expansão global das políticas industriais desde 2009, com ênfase nas iniciativas pós-pandemia, especialmente no setor energético. Notavelmente, 1/3 das políticas industriais globais entre 2009 e 2022 miraram produtos energéticos, sendo 80% delas em países com dependência energética externa.
Comparativo das Estratégias: Coreia do Sul vs. Brasil
Nos anos 70, tanto a Coreia do Sul quanto o Brasil implementaram políticas industriais ambiciosas com o objetivo de promover mudanças estruturais em setores estratégicos. A distinção fundamental reside nas abordagens: o Brasil focou na substituição de importações, utilizando estatais como principal ferramenta, enquanto a Coreia do Sul priorizou um modelo voltado para exportações, com grandes conglomerados privados, os chaebols, no centro da estratégia.
O desempenho econômico comparativo, com maior crescimento do PIB e valor agregado na indústria sul-coreana, sugere uma experiência mais exitosa para a Coreia. Estudos empíricos indicam que a política industrial coreana não apenas impulsionou os setores-alvo, mas também aumentou sua competitividade Internacional e gerou efeitos positivos em outros setores.
Evidências apontam que empresas sul-coreanas subsidiadas continuaram a crescer mais rapidamente que as não subsidiadas, mesmo décadas após o fim dos subsídios.
O Papel do Desenho das Políticas Industriais
Uma das principais razões para a disparidade de resultados, segundo o relatório do FMI, está no desenho das políticas industriais. Na Coreia do Sul, houve uma forte ênfase na aprendizagem experimental no chão de fábrica, com engenheiros absorvendo tecnologia externa e capacitando o país.
Em contraste, as políticas industriais brasileiras, implementadas por estatais, careciam do engajamento do setor privado que foi crucial no modelo coreano de “aprenda fazendo”. Essa visão é corroborada por um estudo de 2019 dos economistas Wilson Peres e Annalisa Primi.
Orientação Exportadora e Competição de Mercado
O relatório também ressalta a orientação exportadora da experiência coreana, que permitiu aos chaebols acessar mercados globais e obter ganhos de escala, algo que não ocorreu de forma tão efetiva no Brasil. A concorrência doméstica e internacional era um pilar do modelo sul-coreano, impondo Disciplina de mercado, ao contrário da pouca competição enfrentada por estatais brasileiras.
“O Governo apoiava múltiplas empresas dentro dos setores e permitia que as forças de mercado determinassem os vencedores”, aponta o relatório sobre a Coreia, citando o caso da Hyundai que se consolidou no setor automotivo após competir com diversas outras empresas.
Governança e Fatores Complementares
A governança na Coreia do Sul incluía reuniões mensais de promoção de exportações, envolvendo governo, academia, finanças e indústria, com metas rigorosas. O não cumprimento podia levar à perda de apoio estatal. O Brasil não possuía um arcabouço de governança comparável.
Fatores complementares no caso coreano incluem estabilidade macroeconômica, uma campanha anticorrupção prévia, um sistema educacional robusto e a reforma agrária. No Brasil, o desequilíbrio macroeconômico persistente, o endividamento externo e a fragmentação orçamentária culminaram na crise da dívida dos anos 80, encerrando o experimento de política industrial da década de 70.
Fonte: Estadão