A possibilidade de o Banco Central (BC) iniciar os cortes na taxa Selic em dezembro foi significativamente reduzida pelo Mercado financeiro. A preferência agora recai sobre o primeiro trimestre de 2026, com reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) agendadas para janeiro e março.
Durante o FMI e Banco Mundial em Washington, a representação do BC ficou a cargo dos diretores de Política Monetária, Nilton David, e de Assuntos Internacionais, Paulo Picchetti. Especialistas observam que os membros da cúpula mais diretamente ligados à condução da política monetária são o presidente Gabriel Galípolo e o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen.
Fontes do mercado apontam que, se houvesse a intenção de alterar a orientação futura (guidance), a comunicação provavelmente viria de Galípolo ou Guillen. Assim, a comunicação recente do Copom, incluindo as falas em Washington, indica que não há sinais de mudança na postura atual de manter a Selic em 15% “por período bastante prolongado”.
Desaceleração Econômica e Inflação
A desaceleração da economia brasileira segue o padrão esperado, com uma intensidade um pouco maior em setores dependentes de crédito, reflexo dos juros reais elevados, e menor nos segmentos dependentes de renda, enquanto o mercado de trabalho permanece aquecido.
A melhora nas expectativas de inflação, que vinha ocorrendo nos últimos meses, desacelerou e atingiu um platô ainda distante do desejável, especialmente nas projeções de longo prazo. O câmbio, após testar o patamar de R$ 5,30, encontra-se em torno de R$ 5,40. A preocupação agora se volta para a pressão sazonal esperada para o fim do ano, com possíveis antecipações de remessas de dividendos devido à nova regra de taxação.
Um participante do mercado, que projeta uma queda de 3 pontos percentuais na Selic em seis reuniões a partir de janeiro (0,5 p.p. por reunião), destaca que o cenário eleitoral, ainda muito indefinido, pode impactar esse cronograma.
Impacto das Eleições e Medidas Governamentais
Em sua análise, se Luiz Inácio Lula da Silva consolidar um favoritismo expressivo até meados do segundo trimestre de 2026, especialmente com o aprofundamento do racha na direita e a escolha de Tarcísio de Freitas pela reeleição em São Paulo, isso poderia gerar estresse nos mercados, complicando o cenário de cortes projetado.
Por outro lado, na hipótese, considerada menos provável atualmente, de a centro-direita consolidar um favoritismo ao longo de 2026, o espaço para cortes na Selic poderia ser ainda maior do que o projetado. A redução da taxa de 15% para 12% no ano que vem ainda deixaria um juro real restritivo de 8%, segundo um analista.
Outro fator que pode alterar o cronograma do ciclo de baixa da Selic são as inúmeras medidas eleitoreiras, fiscais e parafiscais que o Governo vem implementando. Estas medidas tendem a pressionar a demanda, agindo na contramão do aperto monetário promovido pelo BC. Uma estimativa aponta que a isenção de Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil (e redução até R$ 7.350) teria um impacto de R$ 30 bilhões no consumo, com o efeito total das medidas podendo se aproximar de 1% do PIB.
Cenário Internacional e Análise Final
Um complicador adicional para o Banco Central seria uma eventual deterioração do cenário Internacional para economias emergentes, que, por ora, tem se mantido favorável.
Fonte: Estadão