A implementação do sistema de pedágio free flow em São Paulo tornou-se um ponto de desgaste para a gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e acende um alerta no Palácio dos Bandeirantes. O novo modelo, que elimina as praças físicas e cobra tarifas automaticamente através da leitura de placas ou tags de veículos, tem sido utilizado pela oposição e criticado por parte da base aliada do governador, que avalia o tema como impopular e prejudicial ao eleitorado.
O governo estadual, por meio da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), afirmou que as cobranças só são autorizadas após a conclusão dos investimentos necessários previstos em contrato pelas concessionárias. Em nota, o Palácio dos Bandeirantes defendeu o modelo, alegando que ele garante Justiça tarifária com cobrança proporcional ao uso da rodovia e segue melhores práticas internacionais.
Justiça Tarifária vs. Impacto no Bolso
Enquanto a gestão estadual argumenta que o free flow atrairá investimentos, melhorará a fluidez do trânsito e tornará a cobrança mais justa pela proporcionalidade ao trecho percorrido, a oposição e parte da base de Tarcísio sustentam que o modelo onera a população, especialmente os residentes das cidades onde os pontos de cobrança foram instalados.
O deputado estadual Vitão do Cachorrão (Republicanos), filiado ao partido de Tarcísio, emergiu como um dos principais críticos do free flow na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Ele assinou um projeto, junto a parlamentares de PT, PSB, PSOL e PCdoB, com o objetivo de revogar o decreto estadual que autorizou o sistema. Em um vídeo, o deputado implorou para que Tarcísio retirasse o sistema da Rodovia Raposo Tavares, afirmando que moradores de Sorocaba teriam de pagar pedágio até para tarefas cotidianas.
Outro crítico influente é o deputado Gil Diniz (PL), também da base governista, que questiona as cobranças na Raposo Tavares. Ele argumenta que, em cidades sem transporte público eficiente, o free flow dificulta a vida da população, especialmente idosos e aqueles com menos familiaridade com tecnologias digitais.
Desgaste nas Redes Sociais e Opinião Pública
O tema do free flow tem gerado intensa repercussão nas redes sociais. Um levantamento da AP Exata indicou 6,9 mil publicações únicas sobre o assunto no X, TikTok e Instagram nos últimos 30 dias, com cerca de 9 milhões de pessoas alcançadas. A maioria das postagens (63,3%) reprova o sistema em São Paulo, enquanto apenas 25,4% expressam apoio.
Sergio Denicoli, CEO da AP Exata, destacou que a esquerda transformou o tema em uma bandeira política contra Tarcísio, resultando em uma predominância narrativa de crítica. Ele sugere que uma campanha explicativa poderia reverter o quadro negativo de imagem para o governo.
Expansão do Free Flow e Críticas
A lei que instituiu o modelo free flow nas rodovias federais foi sancionada em 2021, durante a gestão de Tarcísio no Ministério da Infraestrutura. A expectativa é que as rodovias paulistas contem com 79 pedágios free flow até 2030. Atualmente, seis estão em operação, com planos de expansão para 19 até o final de 2025.
Apesar das críticas, alguns aliados defendem o modelo. O deputado Altair Moraes (Republicanos) considera o free flow um avanço na infraestrutura e um sinal de modernidade. Contudo, Tarcísio já fez recuos, como a redução de pórticos previstos na Rota Sorocabana após protestos. Diversas propostas legislativas na Alesp buscam isenções e ajustes no modelo.
Oposição Explora o Desgaste
A adoção do free flow proporcionou à oposição uma pauta concreta para contestar a gestão paulista. O deputado Simão Pedro (PT) protocolou uma representação no Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP), enquanto o deputado Reis (PT) realizou audiências públicas contra a medida. Ambos criticam a falta de campanhas informativas, o que pode levar a um aumento nas multas por evasão de pedágio.
O plano federal também reflete contestações, com o Ministério Público Federal questionando o volume de multas em um pórtico da Rio-Santos. A ofensiva petista inclui manifestações, abaixo-assinados e vídeos virais nas redes sociais, como um parody com inteligência artificial de Tarcísio, que já superou 700 mil visualizações.
Fonte: Estadão