Aquecimento Global Afeta Trabalho: Calor, Doenças e Perdas Bilionárias

O aquecimento global está impactando diretamente as condições de trabalho no Brasil. Trabalhadores rurais como Claudia Hirsch Wegner, de 42 anos, em Sinimbu (RS), já sentem os efeitos, tendo que iniciar suas jornadas às 5h para evitar o calor extremo do dia.

Wegner relata que a intensidade do Sol aumentou ao longo dos anos, forçando a alteração de horários e o uso de vestimentas de proteção que intensificam a sensação de calor. Muitos produtores na região também enfrentam queda na qualidade do produto ao tentar adaptar safras para fugir das altas temperaturas.

Estima-se que 15,1 milhões de brasileiros (14,5% da força de trabalho) estejam expostos ao calor excessivo, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). A exposição a altas temperaturas pode levar à desidratação, problemas cardiovasculares, AVC e insuficiência renal, conforme alerta a médica Simone Assalie da Anamt.

Impacto na Saúde e Produtividade

Vinícius Pinheiro, diretor da OIT no Brasil, destaca que o aquecimento global também contribui para o aumento de cânceres de pele, doenças transmitidas por vetores como a dengue, e problemas de saúde mental. “O debate é urgente. Estamos falando de uma mudança que já aconteceu”, afirma Pinheiro.

Dados do Ministério da Previdência Social revelam um salto nos afastamentos por dengue em 2024, com 2.265 casos, ante 450 no ano anterior. Ondas de calor e mudanças climáticas são apontadas como fatores que elevam esses números, segundo pesquisa da Fiocruz.

Desastres climáticos, como as enchentes no Rio Grande do Sul, e períodos de seca intensa também podem agravar quadros de Depressão e ansiedade, especialmente em produtores rurais. O calor excessivo prejudica o sono, a concentração e a produtividade, com a OIT projetando perdas significativas de horas de trabalho globalmente.

Perdas Econômicas e Setores Afetados

Um estudo da OIT prevê que, em 2030, 2,2% das horas trabalhadas no mundo serão perdidas devido ao estresse térmico, equivalente a 80 milhões de empregos em tempo integral. No Brasil, a projeção é de perda de 0,84% das horas trabalhadas, o que representa cerca de 850 mil postos de trabalho.

Os setores mais afetados no Brasil serão agricultura (2,74%), construção (2,74%) e indústria (1,09%). A OIT estima que as perdas econômicas globais relacionadas ao estresse térmico atinjam US$ 2,4 bilhões em 2030. No Brasil, os custos com Lesões e mortes pelo calor excessivo já somaram R$ 175,5 bilhões (1,5% do PIB) no último ano.

Desastres Climáticos e Respostas

As enchentes no Rio Grande do Sul afetaram severamente estabelecimentos e postos de trabalho. Em Sinimbu, cidade de Claudia Wegner, 70,4% dos estabelecimentos e 84,1% dos postos de trabalho foram atingidos. A pousada de turismo rural da família Wegner foi destruída, forçando a dependência do cultivo de fumo.

Wegner enfatiza que o fumo é o “sustento de milhares de famílias na região não por escolha, mas pela Falta de algo que dê a mesma renda”. O Ministério Público do Trabalho no RS passou a considerar riscos climáticos como riscos de ambiente de trabalho, exigindo mapeamento e planos de ação das empresas.

Normas regulamentadoras (NRs), como a NR-15, já estabelecem pausas e avaliações de condições de trabalho. Contudo, Pinheiro, da OIT, aponta que o Brasil ainda atua de forma reativa a problemas específicos, sem políticas estruturadas para cobrir os impactos silenciosos do aquecimento global na saúde dos trabalhadores.

Fonte: Estadão