O recente tarifaço dos Estados Unidos, que elevou para 50% a taxação sobre produtos brasileiros exportados, já começa a mostrar seus efeitos negativos no mercado de trabalho do Brasil. Seis segmentos exportadores registraram um fechamento expressivo de postos de trabalho com carteira assinada em agosto, segundo estudo exclusivo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Impacto Direto nas Exportações Brasileiras
As medidas tarifárias, que somam os 10% de tarifa recíproca já em vigor com 40% adicionais impostos desde agosto, afetaram de forma acentuada setores como a fabricação de produtos de metal, produção florestal, metalurgia e fabricação de produtos de madeira. As pesquisadoras Janaína Feijó e Helena Zahar, autoras do estudo, analisaram microdados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério do Trabalho.
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No geral, o Mercado de trabalho brasileiro apresentou uma abertura líquida de 147.358 postos com carteira assinada em agosto, o menor resultado para o mês na série histórica do Novo Caged desde janeiro de 2020. O saldo foi 38,4% menor que o registrado em agosto de 2024, quando foram criadas 239.069 vagas.
Análise Setorial e Expectativas Futuras
A fabricação de produtos de madeira, por exemplo, viu seu saldo de vagas cair de 579 vagas em agosto de 2024 para um Déficit de 1.780 postos no mesmo mês deste ano, representando uma perda de 2.359 empregos. “É um ajuste, porque lá em meados de julho já se começou a ventilar todas as informações relacionadas ao tarifaço. Então, os agentes e empreendedores acabam ali gerando expectativas, já vão se ajustando”, explicou Feijó.
Os seis setores mais afetados pela piora no saldo de vagas em agosto de 2025 em comparação com o ano anterior e que possuem relação com exportações foram: fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos; produção florestal; metalurgia; fabricação de produtos de madeira; extração de minerais não metálicos; e agricultura, pecuária e serviços relacionados.
“A gente exporta muita madeira, e o setor de madeira foi muito afetado pelo tarifaço, assim como a metalurgia, produtos de metal. Esses são segmentos que já vinham comunicando realmente que seriam muito afetados pelas medidas do Trump”, lembrou Feijó.
Outros Setores e o Efeito dos Juros Altos
Completando o ranking dos dez segmentos com maior queda no saldo de vagas, estão também: atividades cinematográficas, produção de vídeos e de programas de televisão, gravação de som e edição de Música; seleção, agenciamento e locação de mão de obra; organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais; e correio e outras atividades de entrega.
Além do impacto direto do tarifaço, o efeito dos juros elevados na economia brasileira também contribui para o recuo no mercado de trabalho. No conjunto dos dez setores analisados, o saldo foi negativo em 13.769 vagas, quase 23 mil postos de trabalho a menos em comparação com o mesmo período do ano anterior.
“O mercado de trabalho continua num nível bom, aquecido, mas agora ele desacelerou em relação ao ano passado. E aí com esse fenômeno adicional do tarifaço, a gente percebe que os setores que apresentaram maior decrescimento também são os que já tinham potencial maior de serem tarifados”, analisou Feijó. A especialista estima que o saldo de vagas no mercado de trabalho formal em 2025 permanecerá positivo, mas com uma performance mais moderada.
A expectativa é que os meses de outubro, novembro e dezembro, tradicionalmente fortes em contratações temporárias, possam atenuar a desaceleração observada. Contudo, o desempenho geral deste ano deve ser inferior ao de 2023 e 2024, com o agosto de 2025 marcando o pior resultado dos últimos quatro anos.
Fonte: Estadão